Esta entrevista aqui transcrita foi feita com um personagem real. Os fatos verídicos relatados objetivam glorificar a Deus e animar outros na fé cristã. Tudo que é de bom vem de Deus, e ao homem cabe dizer: as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos.
DESCRIÇÃO DO ENTREVISTADO
O personagem deste relato optou pelo anonimato. Trata-se de um adventista batizado, em comunhão com a Igreja. Nunca foi disciplinado. Em quase todo o seu tempo de adventismo exerceu cargo na Igreja e ainda exerce, foi “delegado geral” em Assembléia de Associação; participou de muitas comissões de Igreja. Além de dizimista e ofertante convicto sempre contribuiu e ainda contribui para projetos da Igreja local e mundial. Estudou em colégio adventista e fez questão de que os quatro filhos também estudassem até onde foi possível.
O entrevistado tem nível superior de escolaridade e situação financeira estável. É de meia idade, tem muitos amigos e goza de boa reputação. Mas não faz muito tempo, sua vida mudou radicalmente. Vamos saber mais a respeito dele e dessa mudança de vida. Ele sugere que eu o chame de irmão “Z”.
Irmão “Z”, relate como era sua vida, antes dessa mudança radical?
Sempre tive uma vida normal, pelo menos assim eu considerava, tinha um bom emprego; morava bem; comia bem; tinha meu lazer; regularmente reunia-me com parentes e amigos (a maioria da mesma fé); passeava com frequência; fui diversas vezes ao exterior, inclusive em alguns cruzeiros; valorizava muito a diversão, como jogos de salão, filmes, pescarias, etc. Recebia muitos convites para festas; reuniões sociais; almoços; etc. Todos os filhos estudando várias coisas além do colégio, envolvidos em boas atividades ou trabalhando, e todos frequentando à Igreja. A esposa, também adventista, trabalhava fora e contribuía razoavelmente com a renda familiar. Uma vida aparentemente normal.
Mas, quanto a sua vida religiosa de outrora, como era?
Sim! Frequentava regularmente à Igreja. Não me lembro de ter injustificadamente faltado uma única vez a um culto sabático, nem mesmo à Escola Sabatina; ia também a muitos cultos de quarta, semanas de oração, congressos, etc. Sempre gostei de participar dos programas e atividades da Igreja, exceto programas JA, que há muitos anos deixou de me interessar, por
razões que prefiro não dizer aqui. Sempre exerci cargos tanto em igrejas pequenas, quanto grandes.
A minha pergunta, na verdade, se referiu ao seu relacionamento com Deus.
Bem, a essa pergunta é mais complicado responder. Vou tentar ser o mais fiel possível e ao mesmo tempo resumir. Preciso, no entanto, dividir a resposta em duas fases: antes e depois dos anos 80. Antes dos anos 80...
Desculpe-me interrompe-lo irmão “Z”, mas por que antes e depois dos anos 80?
Vou lhe explicar como foi antes dos anos 80. Eu tive uma educação adventista tradicional. Minha mãe estudava a lição da Escola Sabatina comigo diariamente desde pequeno, até que eu pude estudar por mim mesmo. Na adolescência, em colégio adventista, li muitos livros do Espírito de Profecia. Fazia ano-bíblico, trabalho missionário e recoltava. Usei diversas férias para colportar. Tornei-me ovo-lacto-vegetariano desde os 15 anos de idade. Nessa época decorei muitos versos da Bíblia e trechos do Espírito de Profecia. Travava uma extenuante e infrutífera luta contra os defeitos de caráter, porém não usava as armas corretas, nem ia ao cerne da questão. Eu queria vencer pelo meu próprio esforço e determinação. Eu não tinha consciência que lutava por mim mesmo contra um inimigo mais poderoso do que eu. Não entendia qual era a minha parte no Plano da Salvação. No entanto, graças ao nosso Amoroso, Paciente e Misericordioso Deus, hoje a luta continua, mas é bem diferente.
E o que houve nos anos 80, que ...?
Desculpe interrompê-lo, nos anos 80 pareceu que eu havia encontrado o pote de ouro no fim do arco-íris. Fiquei muito empolgado com o advento de um novo estilo de pregação que baseava a vida cristã em relacionamento com Cristo. Achei que meus problemas estavam resolvidos e agarrei-me com avidez a esse novo conceito. No entanto, o que me parecia ser um fértil e formoso oásis, provou, depois de muitos anos, que não passava de uma miragem. Acabei ficando em um estado pior do que o anterior, que hoje eu chamo de “incoerência sistemática”. Essa foi a minha experiência, não posso falar por mais ninguém.
Irmão “Z”, “incoerência sistemática”, nunca ouvi isso, do que se trata?
Caríssimo, não quero falar deste ou daquele, muito menos responsabilizar alguém que não seja a mim mesmo. Creio que Deus está, estará, e sempre esteve na direção de Sua amada Igreja, e que os líderes instituídos por Deus são ungidos do Senhor e devem ser respeitados. O
que me sinto à vontade para dizer é que ter comunhão com Cristo não é algo inconsequente ou mesmo irresponsável, como eu havia inconscientemente acreditado nessa época. Essa foi a forma como eu acreditei, não atribuo esse erro a mais ninguém. Note que não é a devoção que você faz pela manhã e à noite, nem mesmo a freqüência à Igreja que vai mudá-lo automaticamente; essas ações são essenciais, mas por si só não produzem um caráter que possa ser levado para o céu. Eu esperava que Deus transformasse meu gosto pelo errado em gosto pelo certo para que eu pudesse então obedecê-Lo genuinamente, afinal era isso que eu pedia em minhas orações diariamente. Eu pedia para ser transformado em ovelha apreciadora de capim, pois enquanto eu ainda gostasse de carne, eu seria um lobo vestido de ovelha. Aqui estava o erro! Cria e pregava sobre isso. Que desastre para minha fé, pois essa total mudança de gosto nunca aconteceu; assim a mornidão instalou-se em minha vida, mas continuei na Igreja aguardando que em algum futuro essa transformação ocorresse como por um milagre.
Você poderia explicar um pouco melhor essa situação?
Vou tentar. Talvez um exemplo ajude. Esse exemplo também é real. Logo pela manhã eu fiz minha devoção pessoal. Li um trecho do Espírito de Profecia e orei - aquela oração rotineira, um tanto apressada e sem novidade, aquela que o anjo poderia escrever apenas “idem” em seu relatório. Ocorre que a leitura daquela manhã falava sobre a fidelidade nos dízimos, e, veja que interessante, dizia que não adianta somente pedir perdão sobre dízimos atrasados; mas que devemos devolver o que retivemos do Senhor. Aqui está a diferença entre ser convicto e ser fiel. Sempre fui convicto de que o dízimo é do Senhor; no entanto, não por ganância, mas por displicência, deixei de calcular o dízimo em um ramo de negócio trabalhosíssimo de apurar lucro. Agora estava diante de uma escolha: pedir perdão e entender que isso bastava, contrariamente ao que li na Palavra inspirada; ou crer e devolver o que pertencia ao Senhor. Se comunhão é tudo, então, bastava pedir perdão, correto? Além disso, eu não sentia vontade, nem tinha disposição para gastar horas, talvez dias, calculando dízimos atrasados. Portanto, fazer o que eu acho que é certo, ou o que me convém, ou ainda, o que eu tenho vontade, desconsiderando a ordem inequívoca de Deus é “incoerência”, que é pecado. E “sistemática” porque tal atitude se repetia em muitos outros aspectos da vida. E são os nossos pecados que nos separam de Deus. É isso que diz na Bíblia.
Ok, irmão “Z”, penso que entendi, mas devolver o dízimo nessas circunstâncias, não lhe remete ao problema inicial, ou seja, antes dos anos 80, quando você agia, vamos dizer, como que por obrigação? Peço, no entanto, que o irmão responda no próximo bloco. Até breve.
Mauro Carnassale 20/05/2011
Luís Carlos Fonseca
A outra parte da história será publicada em uma oportunidade posterior. Um abraço.
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