Irmão “Z”, você falava de uma antiga paixão. Sabe que fiquei bem curioso para ouvir seu relato. Então, por favor...
Sim, como eu dizia, eu era apaixonado por uma certa bebida estimulante muito popular. Naquela época eu não me sentia viciado, considerava-me uma pessoa normal, com um gosto nada diferente da maioria das pessoas ao meu redor, afinal eu vivia entre irmãos da mesma fé. Depois dessa experiência fiquei convicto que eu era mesmo viciado nesse refrigerante. Sei que alguns não gostam de tocar nesse assunto, mas... como o Espírito diz na Revelação, tudo o que fazemos é para o bem ou para mal, não há nada neutro. Você acha que eu deveo continuar ou é melhor citar um outro exemplo?
Não, irmão “Z”, não se preocupe. Diga o que vai no seu coração. Penso que nossos leitores também preferem assim.
Pois bem, um dia, estudando a Palavra (note o valor da comunhão), Deus abriu meu entendimento, e pela Sua misericórdia, mostrou-me que I Coríntios 10:31 – “quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” referia-se principalmente à adoração e secundariamente à saúde. Então fiquei surpreso ao perceber que minha comida e bebida faziam parte da minha adoração a Deus. Talvez seja essa uma das razões pelas quais a reforma de saúde é o braço direito da terceira mensagem angélica, você concorda?
Que descoberta! Continue, por favor.
Fiquei maravilhado ao perceber que tudo o que eu faço, inclusive comer e beber, é resultado de quem eu adoro, ou seja, de quem eu sou servo (em breve Jó vai saber que sua prova foi um testemunho universal a favor do nosso Deus). Com esses pensamentos começou uma luta em mim que durou boa parte da noite. De um lado meu gosto corrompido, meu hábito de anos, e dezenas de justificativas sugeridas pelo maligno: isso é legalismo; radicalismo; extremismo; não é ponto de salvação (essa pareceu-me a mais ardilosa!); beber com moderação não faz mal algum; o equilíbrio está no centro; não precisa abster-se, basta não exagerar; ajuda na digestão; tira o sono quando você está ao volante; fulano que é tão bom bebe e você não é
melhor do que ele; beba só em finais de semana ou só fora de casa; etc. Passou tudo isso e muito mais pela minha cabeça. Mas o Espírito Santo também trabalhou. Louvado seja o Senhor! E a vitória foi de Cristo. Não minha, mas de Cristo, pois nossa luta não é contra a carne e o sangue, (nem contra o refrigerante), mas contra as os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Você entende o que é isso? A batalha é por nossa alma, meu amigo! A coisa é séria demais! E em cada pormenor de nossa vida (sublinhe o pormenor), em cada mínima escolha, estamos declarando ao universo a quem servimos, se a Deus ou ao diabo. Isso é muito sério mesmo! Não podemos brincar com o nosso destino eterno, podemos?
Mas que luta interessante! Irmão “Z”. Como foi o desfecho?
Antes quero dizer que nosso caráter é formado pela somatória dos hábitos e estes pela repetição dos atos, inclusive os considerados pequenos e de pouca importância. Sim, agora o desfecho: a única coisa que fiz foi suplicar: “Senhor, quero fazer a Tua vontade. Não me deixes pecar contra Ti. Fortalece a minha fraca vontade. Cumpra em mim as Tuas promessas de vitória”. Quando decidimos que vamos servir a Deus e nos entregamos inteiramente em Suas mãos, submetendo nossa vontade a Ele, a vitória é certa, pois quem promete é Onipotente. Glória a Deus por isso!
Irmão, você poderia ser um pouco mais específico?
Vou tentar, mas lembre-se que estou falando de uma única batalha dentre centenas, talvez milhares que ocorreram em minha vida, e continuam ocorrendo diariamente. Bem! Antes eu fazia assim: decidia que não iria mais beber refrigerante. O erro já estava na decisão, cuja motivação era equivocada, pois era baseada somente na saúde e não na adoração. Além disso, geralmente era para começar numa segunda-feira ou até o estoque de minha despensa acabar. Pode não parecer nada anormal, mas veja que curioso, troque agora o item “beber refrigerante” por “fidelidade a esposa”, seria possível casar hoje e começar a ser fiel numa data futura, ou até acabar o “estoque” de namoradas?
Nesse caso é bem diferente, o irmão não acha?
Aos olhos humanos que classificam pecados como grandes e pequenos sim, mas para Deus todo pecado é enorme, posto que haja diferença entre eles. Note que o problema é o mesmo. Trata-se de ser leal ou rebelde, não há neutralidade. Se eu sei o que é o correto, melhor ou bom e decido fazer o errado, pior ou ruim, a quem estou adorando? Lembre-se de Uzá que foi fulminado por Deus ao tentar amparar a arca do concerto quando esta ameaçou cair. Que lei
ele desobedeceu? Não foi um dos Dez Mandamentos, mas os Estatutos de Moisés, que foi inspirado por Deus. Não beber bebida estimulante e açucarada também não está nos Dez Mandamentos, nem na Bíblia, mas está nos Testemunhos, que também são inspirados por Deus, semelhantemente aos Estatutos dados a Moisés. Daremos importância tanto ao Decálogo, como as leis acerca da saúde, ou qualquer instrução ou conselho inspirado, quando crermos que a Bíblia e o Espírito de Profecia tiveram a mesma fonte de inspiração divina. E se não cremos assim, é melhor mudar de religião. Note, no entanto, que tudo deve relacionar-se com o tema central da salvação em Cristo e o amor de Deus. Isso é lindo e dá uma visão mais clara sobre as ordens divinas, possibilitando entender que o fardo dado a nós por Cristo é suave e leve, muito diferente daquele insuportável quando andamos sozinhos.
A partir daí o irmão nunca mais teve desejo de beber refrigerante?
Negativo. Passei os primeiros 15 dias com o que chamo de crise de abstinência. Nunca me senti tão mal em toda a minha vida. Sentia-me muito estranho! Não tinha ânimo nem para jogar sinuca ou xadrez, nem para ver um filme (essas foram palco de outras lutas), mas Deus me deu a vitória. Louvado seja o Seu nome! Quero deixar bem claro que a luta não era por beber ou não um simples refrigerante, mas a quem eu preferiria honrar depois de reconhecer qual era a vontade de Deus, a quem eu iria permitir que ocupasse o trono de meu coração. Isso sim, decidiria a quem eu iria servir, se a Cristo ou ao diabo. Beber ou não beber seria apenas consequencia dessa decisão vital.
Irmão “Z”, desculpe-me novamente, não há uma certa dose de exagero nessa comparação?
Oh! Meu querido! Eu achava assim também. Aliás, muitas coisas bem mais graves do que essa eu considerava como sendo de pouca ou nenhuma importância. Mas não se deixe enganar, veja o que dizem as Escrituras. Você acha que debochar de um profeta e de sua careca é motivo para ser estraçalhado por ursas? Você acha justo um profeta, depois de dar fielmente a mensagem de Deus, ser atacado por um leão, só porque decidiu voltar por um caminho diferente do que Deus lhe orientou? Você acha que dar metade da oferta que prometeu e mentir sobre esse fato é motivo suficiente para ser fulminado? Você acha que só por darem uma olhadela dentro da arca do concerto, era motivo para mais de três mil pessoas morrerem? E o que dizer de milhares que morreram só porque se recusaram a olhar para uma serpente de metal? E em outra ocasião milhares terem morrido pelo simples fato de terem enjoado de comer maná e pedirem para comer carne? Note que eles estiveram a comer maná por quase quarenta anos! E o que você me diz de perder o filho primogênito porque não ter passado sangue no batente da porta? Eu poderia elencar dezenas e dezenas de exemplos onde
vemos que Deus requer fidelidade nas mínimas coisas. Deus é misericordioso e infinito em amor, mas também é justo e não Se deixa escarnecer. Lembre-se de Eva! Na verdade não foi só um toque ou uma mordidinha no fruto proibido; a questão em jogo era confiar ou não na Palavra Deus. O problema é o mesmo desde então, mas o diabo quer fazer parecer que não há problema nas “pequeninas” desobediências. Desobediência é rebeldia, seja de que tamanho for! Lembre-se sempre que obediência é fruto do amor, e o amor é dom de Deus.
Irmão “Z”, esse termo “rebeldia” não lhe parece inapropriado para um pecador que pede perdão do seus pecados?
Se o simples fato de pedir perdão resolvesse o problema da redenção do homem, todos, ou quase todos os adventistas seriam salvos, aliás, os católicos e os evangélicos também. Meu querido, sem arrependimento genuíno não há perdão. O arrependimento genuíno, que é motivado pelo Espírito Santo, inclui reconhecimento, tristeza, confissão, pedido de perdão e abandono do pecado. O arrependimento também é dom do Espírito. Agora eu lhe faço uma pergunta: Alguma vez você conseguiu se arrepender no atacado?
Como assim?
Assim como eu fazia em minhas orações depois dos anos 80: Perdoa os meus pecados... E achava que estava tudo resolvido. Mas não tinha desejo de mudança, nem paz.
Você poderia detalhar um pouco mais?
Sem dúvida. Você deve confessar os pecados conhecidos especificamente. Pedir perdão um por um. Reconhecer naquilo que ofendeu a Deus e suplicar por força divina que lhe proporcionará vitória. Nossos pecados é que nos separam de Deus. Isso é bíblico. Não inverta as coisas. Relacionamento não substitui fidelidade, mas a motiva. Comunhão não é amuleto, é alimento da alma que nos aproxima de Deus e transforma o nosso caráter. Mas o crente deve submeter-se a Deus e permitir ser guiado pelo Espírito Santo em tudo, em cada detalhe da vida. O perdão não é um ato jurídico que ocorre no céu apenas, é muito mais do que isso.
Irmão “Z”, o que seria o perdão, em sua opinião.
Meu amigo, a minha opinião é de pouca importância, vejamos o que diz a Palavra de Deus. Recentemente passei a lição em minha classe da Escola Sabatina que falava sobre “vestes de esplendor” e citei O Desejado de Todas as Nações, página 555: “a Justiça de Cristo não é uma capa para cobrir pecados não confessados e não abandonados, mas um poder que rege a conduta e transforma o caráter”.
A graça de Cristo perdoa os pecados dantes cometidos e nos dá poder para viver uma nova vida. Jesus perdoa completamente os penitentes não para que continuem na prática do mal, mas para transformá-los em novas criaturas. Leia Romanos capítulo oito, e veja o que Deus promete fazer na vida do crente convertido. Aproveite e cante o hino “Seu Sangue Tem Poder”, número 206 do Hinário Adventista, mas medite na mensagem. Esse hino resume o que eu gostaria de dizer. Leia também, com oração, o capítulo dois da primeira carta de João, especialmente o verso primeiro, mas medite muito na primeira parte desse verso, antes de passar para a segunda.
Irmão “Z”, você citou Romanos, mas nesse mesmo livro, no capítulo sete, está escrito “o bem que quero esse eu não faço, mas o mal que não quero esse eu faço”. Então, como fica essa questão?
Já me escorei muitas vezes nesse verso para justificar meus pecados. Esse é um golpe baixo do inimigo. Ele usa a Palavra de Deus para nos tentar. Ele fez isso com Cristo, lembra-se? Mas a mesma Palavra é nossa espada. Isso mesmo! A Palavra de Deus quando estudada com oração e guiada pelo Espírito Santo pode e deve ser usada para vencer a tentação. O que você acha da ordem de Cristo “vai e não peques mais” dada à mulher pecadora depois de livrá-la de um apedrejamento e perdoá-la? Ele quer nos moldar para viver uma vida santa entre os seres celestiais, concedendo-nos vitória sobre cada pecado e defeito de caráter em nossa vida. Esse aprendizado começa aqui e agora e continua até o fim de nossa vida ou o fim da graça. O nome teológico desse processo é santificação. A dificuldade em aceitar esse aspecto do Plano da Redenção é que, no íntimo, gostamos do pecado. Amamos fazer aquilo que nos dá prazer carnal é como nadar correnteza abaixo. Não requer qualquer renúncia. É o caminho largo, cujo fim é a morte.
Mas irmão “Z”, mas ninguém chegará a ser santo. O irmão pensa de forma diferente?
Não faz muito tempo eu conheci um santo, e...
Irmão “Z”, gostaria muito de continuar lhe ouvindo, mas temos que deixar para o próximo bloco. A entrevista de hoje já passou um pouco do planejado. Tenha uma boa noite.
Agradeço mais uma vez a oportunidade. Louvado seja o Senhor! Não se esqueça de ler Romanos oito, I João dois, e meditar nas palavras do hino número 206 -
Mauro Carnassale
Luís Carlos Fonseca
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