PECADOS SECRETOS
Quem pode discernir os próprios erros? Purifica-me tu dos que me são ocultos.
(Salmos 19.12)
A justiça própria deriva em parte do orgulho, mas principalmente, da ignorância da lei de Deus. Devido os homens conhecerem muito pouco ou nada do terrível caráter da lei divina, insensatamente se imaginam justos . Eles não estão conscientes da profunda espiritualidade e da rigorosa severidade da Lei, pois do contrário, teriam noções diferentes e de maior sabedoria. Se soubessem como profundamente a Lei julga seus pensamentos, cada emoção do homem interior, não haveria nenhuma criatura sob o céu, que se atrevesse a se ver como justo diante de Deus em virtude de suas próprias obras e pensamentos. Basta a Lei ser revelada a um homem, basta que veja como a Lei perfeita e quão infinitamente justa, para que sua justiça própria murche e se converta em nada. Sua justiça própria será um trapo imundo aos seus olhos, quando antes a considerava um vistoso abrigo.
Davi, tendo visto a lei de Deus, e louvando esta lei neste salmo que lemos aqui hoje, refletindo sobre a sua excelência, foi levado a fazer esta pergunta: "Quem pode discernir os próprios pecados?" E, então, ofereceu essa oração, "absolver-me dos que me são ocultos".
O Concílio de Latrão da Igreja de Roma, aprovou um decreto que estabelecia que todo crente verdadeiro devia confessar anualmente todos os seus pecados a um sacerdote, e agregou ao decreto a declaração que não há esperança de perdão se não for cumprido o decreto. Quem poderia igualar um disparate tão grande quanto esse decreto? Será que supunham que os homens podem dizer seus pecados tão facilmente como podem contar seus dedos? Por que se só podemos receber perdão de todos os nossos pecados dizendo cada pecado que cometemos em uma hora, nenhum de nós poderia entrar no céu, visto que, há pecados que não conhecemos e que não podemos ser capazes de confessar, pois há um vasto conjunto de pecados que são verdadeiros pecados como os que podemos observar, mas que estão escondidos e passam despercebidos diante de nossos olhos.
Ah, se tivéssemos olhos como os de Deus, teríamos uma opinião muito diferente a nosso respeito. Os pecados que vemos e confessamos são como as pequenas amostras que o fazendeiro traz ao mercado, tomadas do celeiro repleto que está em sua casa. Somos capazes de observar e detectar pequena quantidade de pecados em comparação aos que estão escondidos de nós e que são pouco vistos por nossos semelhantes.
Sem dúvida que essa é uma verdade aplicável a todos nós que estamos aqui, que, a cada hora de nossa existência, enquanto envolvidos em nossas atividades, cometemos muitos pecados que não são acusados por nossa consciência, porque não as temos visto como coisas erradas em virtude de que não estamos estudando a lei de Deus como devíamos fazer.
Agora, temos que aceitar que pecado é pecado, quer o vejamos, quer não. Um pecado, mesmo que não detectado, é um pecado tão real como o que podemos observar, embora não seja tão grave aos olhos de Deus como aqueles que cometemos deliberadamente, não tendo o agravante da intenção. Todos os pecados que conhecemos devemos confessar em sincera oração: “Senhor, eu confesso todos os pecados conhecidos”, mas devo acrescentar dizendo, “perdoa-me dos que me são ocultos”.
No entanto, esta não é a essência do meu sermão hoje. Meu objetivo é uma espécie de homens que não têm pecados desconhecidos para eles, mas que os tem mantido em segredo na frente de seus semelhantes. Cada vez que levantamos uma linda pedra colocada sobre o gramado verde da igreja que congregamos, pintada com tinta de bondade aparente, e para nosso assombro, encontramos debaixo dela todo tipo de insetos imundos e répteis odiosos, e em nosso repúdio a hipocrisia exclamamos: “Todos os homens são mentirosos, não há ninguém em quem possamos confiar”.
Não seria justo aplicar esta designação a todos, mas realmente, as descobertas feitas sobre a falta de sinceridade dos nossos semelhantes, são suficientes para entendermos quão longe pode ir a simples aparência, e quão pouca é a pureza do coração. A vós, senhores, que pecam em segredo, pois fazem profissão de fé, mas que quebram o pacto com Deus quando estão nas sombras, e continuam usando a máscara da bondade quando estão na luz – a vocês que fecham as portas para cometer abominação em segredo, para vocês eu vou pregar esta manhã. Ah, que Deus se agrade em falar ao seu coração e leve-os a proferir estas palavras: “Absolve-me de meus pecados que estão ocultos”.
Vou me esforçar para exortar a todos os hipócritas, pedindo-lhes que abandonem, que renunciem, que detestem, que odeiem, que aborreçam todos os seus pecados secretos. E, em primeiro lugar, me esforçarei para mostrar a loucura de pecados secretos. Em segundo lugar, a miséria dos pecados secretos. Em terceiro lugar a culpa dos pecados secretos. Em quarto lugar o perigo dos pecados secretos. E, em seguida, aplicar palavras de cura para que todos nós recebamos graça de evitar os pecados secretos.
I. Em primeiro lugar: A LOUCURA DOS PECADOS SECRETOS
Hipócrita, você é formoso quando os outros te vêem, tua conduta externa é reta, afável, liberal, generosa e cristã; mas você se entrega a pecados que os olhos dos homens não detectaram. Talvez tenhas o teu frenesi privado. Não anda e cambaleia bêbado pelas ruas, mas se entrega a bebida em privado. Pode ser qualquer outro apetite ou vicio, não me compete especificá-los neste momento. Mas, hipócrita, te digo que és um tolo quando pensa em hospedar um pecado secreto.
Você é um tolo por uma razão especial, teu pecado não é um pecado secreto, é conhecido e será revelado um dia, talvez muito em breve. Teu pecado não é um segredo pois os olhos de Deus o tem visto, você pecou diante de Sua face. Você fechou a porta, você fechou as cortinas, você se escondeu da luz do sol, mas os olhos de Deus penetram a escuridão, as sombras que te rodeavam e vê tudo como ao sol do meio-dia todas as coisas. Você não Sabe, ó homem, que “todas as coisas estão nuas e patentes diante dos olhos dAquele que devemos prestar contas?
Quando um sacerdote enfiava a faca nas entranhas do animal do sacrifício, descobria ali o coração e o fígado, e tudo que estava nas entranhas. Assim és tu, ó homem, visto por Deus; cortado em duas metades pelo Todo-Poderoso. Não tens nenhuma câmara secreta onde possa se esconder. Não tens nenhum porão escuro onde possa esconder tua alma.
Você não tem câmara secreta onde você pode se esconder. Você não tem porão escuro onde você pode esconder a sua alma. Cave profundamente, oh, tão profundamente que chegues ao inferno, mas não encontrarás terra suficiente para cobrir o seu pecado; se pudésseis reunir montanhas sobre a tumba do seu pecado, essas montanhas contariam o segredo que está em suas entranhas. Se pudésseis jogar seus pecados ao mar, mil ondas sussurrantes contariam o teu segredo. Não é possível que te escondas de Deus. Teu pecado está registrado no céu. O ato, quando foi cometido, foi registrado no céu e ali permanecerá, e um dia tudo será revelado aos olhos curiosos de todos os homens. Como um hipócrita e falso, você cometeu seus pecados em segredo é claro, mas foram observados pelo Senhor que tudo vê.
Oh, quão tolos são os homens quando pensam que podem fazer algo em segredo. Este mundo é como uma colméia de vidro, dentro da qual as abelhas trabalham: podemos então observar e ver todos os trabalhos dessas criaturas. Assim, Deus olho dês os céus e tudo vê. Nossos olhos são débeis. Não podemos ver no escuro. Mas os olhos de Deus, como um globo de fogo, atravessa a escuridão. Ele lê os pensamentos do homem e vê suas ações quando ele pensa que está bem escondido.
Ah, esse pensamento seria suficiente para nos refrearmos de todos os pecados, se tão somente aplicássemos a nós: “Tu é o Deus que vê!” Ladrão, pare! Deixe o que tens roubado. “Deus te vê! Nenhum olho na terra te contempla, mas os olhos de Deus estão agora olhando desde os céus. Blasfemo! As pessoas que te preocupam no viram teu juramento, mas Deus escutou, teu juramento penetrou os ouvidos do Senhor Deus dos exércitos. Ah! Tu que levas uma vida imunda, mas parece um empresário respeitável mostrando aos homens em caráter afável e bom. Teus trabalhos são todos conhecidos e estão escritos no livro de Deus. Ele tem um diário de todas as tuas ações. Pense naquele dia em que uma multidão estará reunida, comparada com a qual, qualquer multidão aqui não passa de um gota em um balde, e Deus lerá a tua história secreta, e os anjos e os homens ouvirão. Estou certo de que não há ninguém que gosta de ler todos os seus segredos, em especial os nossos pensamentos secretos.
Se eu escolher entre essa congregação o homem mas santo e lhe pedir para se levantar e dizer: “Bem, senhor, eu sei todos os seus pensamentos, e eu estou pronto para contá-los” – eu tenho certeza que me ofereceria o maior suborno que pudesse conseguir para que eu ocultasse alguns deles. “Conte” – me diria – “as minhas ações; pois delas não me envergonho, ma não conte meus pensamentos e imaginações:Porque deles sempre estarei envergonhado diante de Deus”.
Como é grande, então, pecador, será tua vergonha quando tuas lascívias secretas, tuas transgressões privadas, teus crimes ocultos forem anunciados desde o trono de Deus, e publicados por Sua própria boca, e com uma voz mais forte que mil trovões declararem teus segredos diante do mundo inteiro reunido. Qual será o seu terror e confusão então, quando todas as obras do teu coração forem publicadas em face do sol para todos os ouvidos da humanidade. Oh, renuncie a insensata esperança, pois teu pecado tem sido registrado neste dia, e será publicado um dia em todas as paredes do céu.
II – Continuando, vamos ver. A MISÉRIA DOS PECADOS SECRETOS
De todos os pecadores, o homem que faz uma profissão religiosa e ainda vive na injustiça, é o mais miserável. Um ímpio descarado, que toma o copo na mão e diz: “Eu sou um bêbado, e eu não me envergonho disso” – será indescritivelmente miserável no mundo que está por vir, mas teve sua breve hora e momento de prazer. Um homem que diz maldições e blasfêmias e diz: “Este é o meu costume, eu sou um blasfemo”, e faz disso uma profissão, tem ao menos alguma “paz” sem sua alma, mas o homem que anda com o ministro de Deus, que está unido a igreja de Deus, que vai ao povo de Deus e se une a ele, e então vive em pecado, quão miserável deve ser sua vida! Tem uma vida pior do que a do rato que está em seu esconderijo e corre em segredo para pegar migalhas, e em seguida, retorna rapidamente para o seu buraco. Esses homens devem se apressar para o pecado de vez em quando, e oh quão temeroso está de ser descoberto! Um dia, talvez, ele mostre o seu caráter, mas com maravilhosa astúcia consegue esconder e disfarçar, mas no dia seguinte algo acontece de novo, e vive então em constante medo, dizendo mentira após mentira, fazendo com que a última seja convincente, acrescentando engano a engano para que os outros não descubram.
“Oh, é uma amaranhada teia que tecemos,
Quando uma vez nos aventuramos a enganar”
Se eu vou ser ímpio, levarei a vida de um pecado fanfarrão, que peca diante da face do dia; mas, se peco, não vou agir como um hipócrita e um covarde. Não vou professar ser de Deus, enquanto passo a vida com o diabo. Esse truque do diabo é algo que todo o pecador “honesto” deveria se envergonhar. Ele dirá: “Agora, se eu verdadeiramente sirvo ao meu senhor, lhe servirei de forma declarada, e não fingir a respeito disso; se faço um profissão, a cumprirei; mas se não faço, se vivo em pecado, não vou escondê-lo por meio da hipocrisia e falsidade”. Algo que tem paralisado a igreja e que tem partido o seu vigor, é a mais infame hipocrisia. Ah, em quantos lugares há homens a quem poderíamos louvar até o próprio céu, se crêssemos em suas palavras, mas que nos jogariam no próprio inferno se pudéssemos ver suas ações secretas. Que Deus conceda perdão a qualquer um que esteja agindo assim.
Eu quase diria que dificilmente poderia perdoá-lo. Eu posso perdoar um homem que se entrega ao pecado abertamente e não professa ser melhor. Mas um homem que adula, que fala com engano, e simula, e ora, enquanto vive em pecado, a esse homem eu desprezo, não posso suportá-lo, o aborreço com minha alma. Se abandonasse esse caminho, o amaria, mas em sua hipocrisia, é para mim a mais desprezível de todas as criaturas.
Há um conto que diz que um sapo leva na verdade uma jóia em sua cabeça, mas este homem não tem nenhuma, mas carrega imundícia simulando estar amando a justiça. Uma mera profissão, meus senhores, não é nada mais que uma maquiagem ostensiva de quem está indo para o inferno, é como as plumas no carro fúnebre levado por cavalos negros que arrastam os homens às suas tumbas. Cuidem-se, acima de todas as coisas, de uma profissão feita de cera que não resiste aos raios do sol; evite uma vida que necessita de duas caras; deves ser uma coisa ou outra. Se decidires servir Satanás, não finja servir a Deus, mas se pretendes servir a Deus; O sirva de todo o coração. “Ninguém pode servir a dois senhores”; não insista nisso, pois não existe uma vida mais miserável que essa. Acima de todas as coisas, evite qualquer ato que seja necessário ser escondido.
Há um singular poema escrito por Hood, chamado “O Senhor de Eugenio Aram, uma poesia notável que ilustra bem o ponto que estou querendo fixar em suas mentes. Aram matou um homem e jogou o seu corpo num rio. “Uma lenta corrente, negra como tinta, profunda ao extremo”. No dia seguinte vai visitar a cena do seu crime:
“Eu busco o negro poço maldito,
Com um olhar desconfiado e receoso;
E ele viu o morto no leito do rio,
Pois o infiel curso estava seco”.
Em seguida, ele cobriu o cadáver com muitas folhas, mas um vento forte varreu a floresta deixando seu segredo exposto ao sol;
“Então eu caí de rosto em terra,
E pela primeira vez comecei a chorar,
Pois descobri que meu segredo era tal
Que a terra recusou guardar,
Em terra ou no mar, onde quer que fosse
Mesmo a dez mil metros de profundidade.”
Ele profetiza que será descoberto com notas melancólicas. Ele enterrou sua vítima em uma cova cobriu com pedras, mas quando os anos completaram sua cansada ronda, o fato macabro foi descoberto e o assassino foi executado.
A culpa é um “mordomo sinistro”, e tem seus dedos estão manchados de sangue. Os pecados secretos trazem olhos febris e noites sem dormir, até que os homens destroem e apagam suas consciências, mas se tornam maduros para a sepultura. A hipocrisia é um jogo difícil de se jogar, pois deve enganar a muitos observadores; e certamente é uma troca miserável que nos conduzirá a um fim, com seu grande clímax numa precisa falência total. Ah! – você que pecou sem serem descoberto, “tenha certeza que seu pecado há de encontrá-lo”; e pode ter certeza que encontrarão antes que passe muito tempo. O pecado, como o assassinato, será descoberto; os homens contam suas histórias até em seus sonhos. Deus tem picado muitas vezes os homens em suas consciências, até que foram obrigados a confessar a sua história.
Pecado secreto! Se quiser um prenúncio da condenação aqui na terra, continue com teus pecados secretos, pois nada é mais miserável que o homem que peca secretamente e trata de tentar preservar a sua imagem. Um cervo perseguido por cães sangrentos com suas bocas abertas, é muito mais feliz do que o homem que é perseguido por seus pecados. Aquele pássaro preso no laço do passarinheiro lutando para escapar, é muito mais feliz do que aquele que se tem enredado na rede do engano e se esforça pra escapar dela todos os dias se esforçando ao máximo, e ela se torna mais forte a cada dia. Ah, a miséria dos pecado secretos! De fato tu podes orar agora: “Livra-me dos que me são ocultos”.
III – Agora a culpa. A SOLENE CULPA DO PECADO SECRETO
Agora, João, você acha que não há nada errado em uma coisa até que alguém veja, não é? Sente que é um grande pecado que teu patrão descubra que você está roubando o caixa, mas que não é nada demais se ninguém descobre o seu pecado. E você, senhor, que imagina que é muito grave tua fraude nos negócios se fores descoberto e levado a justiça, mas se não fores descoberto, está tudo bem: Não diga nada a esse respeito, Sr. Spurgeon, se trata de negócios, e não deves se intrometer nos negócios; as fraudes que não são descobertas, não devem representar nenhum problema para você. A medida comum de pecado é a sua notoriedade. Mas eu não acredito nisso. Um pecado é um pecado, se o cometes em segredo ou diante do mundo inteiro.
É curioso como os homens medem a culpa. Um trabalhador da estrada de ferro põe o sinal equivocadamente e ocorre um acidente; o homem é julgado e severamente censurado. No dia anterior também tinha colocado um sinal errado, mas não houve acidente algum e, portanto, ninguém o acusou por seu descuido e relaxamento. Mas foi exatamente o mesmo erro – com acidente ou sem acidente; o acidente não gerou a culpa, mas o ato – mas sem a notoriedade e a repercussão. Era sua responsabilidade ser cuidadoso. E ele é tão culpado na primeira como na segunda vez que, em sua negligência, expôs vidas humanas ao perigo mortal. Não meça o pecado pelo que outras pessoas dizem sobre ele, mas pelo que Deus diz a respeito dele, e como suas consciências protestam contra ele.
Agora, eu sustento que o pecado secreto, em qualquer circunstância, é o maior pecado, porque o pecado secreto implica que o homem que o comete tem aninhado e acalentado o ateísmo em seu coração. Se me perguntarem como pode ser isso? Eu respondo que essa pessoa pode até professar ser um cristão, mas eu lhe direi na sua cara que é um ateu na prática, se se esforça para manter uma profissão respeitável diante dos homens, e transgride em secreto. Diga-me, acaso não é um ateu aquele que diz que há um Deus, mas que ao mesmo tempo se importa mas com os homens do que com Deus?
Não é a própria essência do ateísmo, não é negação da divindade do Altíssimo, quando homens dão pouco valor a Deus e dão máxima importância aos olhos da criatura do que a observação do Criador? Há pessoas que por nada no mundo diriam palavras torpes na frente de um ministro, mas podem dizer normalmente sabendo que Deus está vendo. Esses são ateus. Há alguns que não iriam trapacear nos negócios por nada no mundo se souberem que serão descobertos, mas podem fazê-lo sabendo que Deus vê, isto é, valorizam o olho humano muito mais do que os olhos de Deus; e pensam que é pior ser condenado pelos homens do que ser condenado por Deus. Chame-o como quiserem, mas seu nome correto é ateísmo prático. É uma desonra para Deus; é destroná-lo, é colocá-lo abaixo de suas criaturas. E o que é isso senão negar a sua Divindade?
Irmãos, eu imploro que não incorram na culpa dos pecados secretos. Ninguém pode pecar pouco em secreto, pois certamente cairá em mais pecados. Ninguém pode ser um hipócrita e dizer ter uma falta moderada. Irá de mal a pior, e continuará assim até que sua culpa seja publicada, será então exposto como o pior e mais duro dos homens. Atribuam a mais severa importância a culpa do pecado secreto.
Ah! se eu pudesse falar como Rowland Hill fazia, fazendo as pessoas sentirem que estava falando pessoalmente para elas e as fazerem tremer! Se diz que quando ele pregava, não havia nenhum homem junto a janela que fosse, ou no meio da multidão, ou sentado na galeria, que não falasse: “Hey – é para mim que você está pregando, está falando acerca dos meus pecados secretos”. E quando ele proclamava o onisciência de Deus, é dito que os homens estavam inclinados a acreditar que estavam vendo Deus ‘corporalmente’ entre eles, olhando-os. E quando ele terminou o sermão, escutavam uma voz sussurrando em seus ouvidos: “Pode alguém se esconder, diz o Senhor, em um esconderijo que Eu não veja? Eu não encho, diz o Senhor, o céu e a terra?”
Eu gostaria de poder fazer o mesmo. Fazer com que cada homem olhasse para si e descobrisse seu pecado secreto.
Vamos, irmãos, o que é? Traga-o a luz do dia; talvez ele morra sob a luz do sol. Aquilo que não gostaria se fosse descoberto. Diz agora a tua própria consciência o que é. Olhe em sua face; confesse diante de Deus, e Ele te dará graça para vencer este pecado e qualquer outro, e te levará para Ele em pleno propósito e de todo coração! E eu acrescento isso para ti, que a sua culpa é culpa, se for descoberta ou não, e se existe alguma diferença é para pior, pois é uma culpa maior, porque tem sido secreta. Deus nos livre da culpa do pecado secreto! “Livra-me do que me são ocultos”.
IV. Olhem então. O PERIGO DO PECADO SECRETO.
Um perigo é que o homem não pode cometer um ‘pecadinho’ secreto sem que, com o tempo, se converta em um pecado público. Se cometes um pecado, é como quando se derrete as geleiras nos vales do Alpes; o resto virá em seguida. Hoje uma pedra é colocada num monte, no dia seguinte você coloca outra, e assim sucessivamente, até que a pilha de pedra se torna uma pirâmide.
Veja o pequeno inseto em seu trabalho. Ele não edificará sua toca exatamente tão alta quanto imaginas, mas não vai parar até que as ervas daninhas em decomposição a cubram, e em seguida continuará, e finalmente, um grande monte é construído por essas minúsculas criaturas.
O pecado não pode ser contido pela sela e a rédea como com o cavalo. “Mas eu só vou tomar um gole de vez em quando, só vou ficar bêbado uma vez por semana ou algo assim. Ninguém vai ver, eu vou direto para a cama. Logo você estará bêbado nas ruas. “Eu vou ler esse livro lascivo e vou esconder debaixo da cama caso entre alguém”. Todavia irá mantê-lo em sua biblioteca amigo. “Eu só vou me encontrar com esses amigos às vezes”. Logo estarás com eles todos os dias, tal é o seu caráter sedutor; não podes evitá-lo. E o mesmo que pedir ao leão para enfiar a cabeça entre suas mandíbulas. Você não pode controlar suas mandíbulas: também não poderá controlar o pecado. Uma vez em que adentras ao pecado, não poderá decidir quando ele será destruído. Podes ser um indivíduo tão sortudo que, como Van Amburgh, coloque e tire a cabeça muitas vezes, mas não podes ter certeza se a aventura lhe custará a vida.
E você pode se empenhar em ocultar o seu hábito depravado, mas ele sairá a luz, você não pode evitar. Você guarda seu pequeno e favorito pecado em casa, mas como com um cãozinho, ele sairá correndo quando a porta estiver aberta. Cubra-o em teu colo, coloque-o sobre várias camadas de hipocrisia para mantê-lo em segredo, mas o infeliz como um pássaro, cantará quando outras pessoas estiverem presente; é impossível manter quieto para sempre o pássaro do mal. Teu pecado irá aflorar, e pior, nesse dia estarás já tão indiferente a ele que não mais se importará. O homem que se entrega ao pecado privado, gradualmente vai se tornando tão duro quanto o bronze.
A primeira vez que pecou assim, gotas de suor surgiram em sua testa, já na segunda vez não havia suor lá, só uma certa agitação; na terceira vez, havia um aspecto astuto e furtivo, mas não mais a agitação, na próxima vez, pecou um pouco mais; e gradualmente se tornou blasfemo em sua ousadia diante de Deus a ponto de exclamar: “Quem sou eu para que tema o Senhor, e quem é Ele para que o sirva?”
Os homens vão de mal a pior. Ponha teu barco na correnteza, e seguramente ele irá para onde ela o arraste. Coloque-o em um furacão, e será como um graveto ao vento, você não o controlará. O balão pode ser usado, mas não poderá controlar o seu curso, ele irá para onde o vento o levar. Se tu monta em um pecado uma vez, não há forma de detê-lo e controlá-lo. Tenha cuidado, se não queres estar entre os piores indivíduos, cuidado com os ‘pequenos’ pecados, porque eles quando empilhados uns sobre os outros, chegam ao topo e destroem a alma para sempre. Há um grande perigo em pecados secretos.
Mas há cristão aqui que consentem com pecados secretos. Afirmam que são pequenos pecados, e por isso podem deixá-los de lado. Queridos , eu falo com vocês agora, e eu falo também para mim mesmo quando digo isto: Abandonemos todos os nosso pequenos pecados secretos. Podemos chamá-los de pequenos, e eles são pequenas raposas, lembro-lhes que são as raposinhas que destroem as nossas vinhas, nossas vinhas são brotos tenros. Vamos cuidar de nossos “pequenos” pecados. Um pecadinho, como um pedrinha em um sapato, atrapalhará a caminhada em direção ao céu. Como os pequenos ladrões podem abrir a porta para os grandes que estão do lado de fora.
Cristãos, lembrem-se que os pequenos pecados deterioram sua comunhão com Cristo. Os pequenos pecados, como pequenas manchas na seda, podem destruir a fina textura da comunhão. Os pequenos pecados, como os pequenos defeitos de uma grande máquina, podem destruir todo o tecido da sua religião. Uma mosca morta arruína todo o vidro de perfume. Este pequeno cardo pode encher um continente inteiro de ervas daninhas.
Irmãos, matemos nossos pecados tão logo os descubramos. Alguém disse: O coração está cheio de aves impuras. É sua jaula”. “Ah!”, disse outro teólogo, “mas você não deve fazer disso uma desculpa, pois sua responsabilidade como cristão é torcer o pescoço de todos eles”. E é. Se existem coisas ruins, a nossa responsabilidade é matá-las. Os cristãos não devem tolerar pecados secretos. Não devemos abrigar traidores, pois é alta traição contra o Rei do Céu. Arrastemo-los a luz do dia, e sacrifiquemos cada um deles diante do altar, renunciando nossos pecados secretos mas queridos, seguindo voluntariamente os mandamentos de Deus. Há um grande perigo em um pequeno pecado secreto, por isso, os evitemos completamente, passemos longe deles, nos desviemos para evitá-los, e que Deus nos dê sua graça para que possamos dominá-los!
V. E agora, para concluir. APELO Exorto-vos como todas as minhas forças para alguns de vocês que Deus está tocando a consciência. Eu estou aqui para suplicar-lhes, com lágrimas se necessário, a desistirem de seus pecados secretos. Tenho pessoas aqui por quem bendigo a Deus, eu os amo, apesar de não conhecê-los. Vocês estão quase persuadidos a serem cristãos, vacilam entre dois pensamentos, desejam servir a Deus, abandonar seus pecados, mas consideram que é uma luta difícil, e agora não sabem o que será. Eu falo a ti com todo o meu amor, meu amigo – conservarás o pecado e irás para o inferno, ou deixarás seu pecado e irás ou céu. Esta é uma solene alternativa. Apresento ela a todos os pecadores que tem sido hoje despertados, que Deus tenha escolhido você, de outra maneira temo em pensar qual a alternativa poderás escolher. Os prazeres da vida são intoxicantes, seus gozos entorpecem de tal maneira, que se não lembrasse que Deus é que muda nossas vontades, não haveria esperança para você. Mas confio em Deus para resolver tal assunto.
Deixa-me colocar diante de vocês a alternativa: De uma lado está uma breve alegria, uma breve vida aqui, será pobre, pobre e breve vida; por outro lado, ha uma vida eterna e glória perpétua. De em lada há uma felicidade transitória, e depois, esmagadora aflição; no outro caso há uma sólida paz e gozo eterno e superabundante bem-aventurança. Não fico com medo de ser chamado, sendo calvinista, de arminiano, quando digo como Elias: “Até quando coxeareis entre dois caminhos? Se o Senhor é Deus; siga-o; mas se é baal, siga-o”
Mas agora, voluntariamente, faça uma escolha, e que Deus te ajude a fazê-lo! Não digam que estás indo adotar o cristianismo sem levar em conta o custo, lembre-se, sem lamúrias terás que renunciar seus prazeres. Podem fazê-lo por Cristo? Podem? Eu sei que você não pode, salvo se a graça de Deus vos conduzir nessa escolha. Mas podem dizer: “sim, pelo poder de Deus eu renuncio a todos os prazeres e atrativos da terra, as suas pombas e bugingangas”?
“Nada pode me Satisfazer
Dá-me Cristo, ou morro”
Pecador, nunca te arrependerás dessa escolha, Deus te leve a tomá-la; encontrarás a felicidade aqui, e serás três vezes mais feliz por toda a eternidade.
“Mas”, dirá alguém, “Senhor, não tenho a intenção de ser religioso, e não estou de acordo com tua severidade”. Eu não peço isso; só espero, isto sim, que dê crédito a Severidade de Deus, e a severidade de Deus e dez mil vezes maior que a minha. Podes dizer que eu sou Puritano em minha pregação; Deus será Puritano quando chegar aquele grande dia. Posso ter parecido severo, mas nunca poderia ser tão severo como será o Senhor.
Eu posso passar o ferro afiado em sua consciência, mas Deus passará ferro em brasa eterna em todo teu ser um dia. Eu posso falar coisas que trovejam! Deus não as dirá, e sim as lançará sobre tuas mãos. Lembre-se que os homens podem rir do inferno, e dizer que não existe; mas eles devem rejeitar completamente a Bíblia antes de acreditarem nessa mentira. A consciência do homem lhe dize que:
“Há um inferno terrível,
E dores eternas;
Onde os pecadores com o diabo devem morar,
Em trevas, fogo e cadeias.”
Senhores, conservarão seus pecados secretos e merecerão o fogo eterno por eles? Lembrem-se que não há opção a não ser renunciar a todos eles, pois do contrário jamais serão filhos de Deus. Não se pode ter ambas as coisas; não podem ser de Deus e do mundo, não podem ser de Cristo e do diabo, deve ser um ou outro. Ah! Que Deus lhes dê graça para renunciar a todos os pecados; pois quanto valem? São seus enganadores agora, e serão seus torturadores para sempre.
Oh, que seus olhos sejam abertos para ver a podridão, o vazio e o embuste da iniqüidade. Oh! Que Deus os leve de volta para Ele! Oh! Que Deus lhes dê graça para atravessar o Rubicão do arrependimento neste momento; para que digam: “a partir de agora é uma guerra de morte com os meus pecados; não vou manter nenhum deles voluntariamente, mas para fora com eles, fora com eles, os Cananeus, Heteus, Jebuseus, todos serão expulsos”
“O ídolo mais amado que tenho conhecid0,
Seja qual for;
Ajuda-me a derrubá-lo do seu trono.
E adorar somente a Ti.”
“Mas, oh! Senhor, não posso fazê-lo; seria como arrancar os olhos”. Ah! Escute o que Cristo disse: “melhor é entrar com um olho só na vida, que tendo os dois olhos e seres lançado no fogo do inferno” – “Oh! Mas isso seria como arrancar um braço” – “É melhor entrar na vida coxo e manco, que ser lançado no fogo do inferno” - Oh! Quando um pecador vem diante de Deus afinal, pensas que falarás com faz agora? Deus revelará teus pecados secretos: O pecador não dirá então: “Senhor, eu considerava os meus pecados secretos tão doces, que não podia abandoná-los”
Eu imagino quão diferente será então. “Senhor”, me dizem agora, “És demasiado rigoroso;”dirão isso quando os olhos do Todo-Poderoso estiverem os mirando em ira? Podes me dizer agora: “O Senhor é preciso demais”, mas irão dizer isso diante da face do Deus Todo-Poderoso? “Senhor, tenho a intenção de conservar tal e tal pecado”. Você poderá dizer isso no Tribunal de Deus no fim? Não se atreverão fazê-lo naquele momento.
Ah, quando Cristo voltar pela segunda vez, haverá uma mudança notável na maneira como os homens falam. Posso vê-lo ali, assentado em Seu Trono. Vamos, Caifás, vem condená-lo agora! Judas, vem e lhe dê um beijo agora! Homem, qual o seu problema agora? Estás com medo? Vamos, Barrabás, veja se te preferem agora em lugar de Cristo. Blasfemo, agora é o teu momento, tens sido um homem valente, maldiga-O em sua cara agora. Agora, bêbado, caminhe cambaleante em direção a Ele agora.
Vamos , infiel, diga agora que não há um Cristo; agora que o mundo está iluminado aceso com Seu raio e a terra tremendo com os trovões até seus alicerces se esvaírem; diga a Deus agora que não há Deus; ria agora da Bíblia; zombe do agora do ministro. Vamos, cavaleiros, qual é o problema com vocês? O quê, não podem dizê-lo? Ah! Lá estão eles, fugindo para os montes e as rochas: “e dizem aos montes e as rochas: caiam sobre nós, e nos esconda da face daquele que está assentado no Trono”. Ah! Onde está agora a jactância, seu orgulho e suas glórias? Ai, ai, ai de ti naquele terrível dia de maravilhas.
Pecador secreto, que será de ti então? Saiam desse lugar sem tua máscara; sai para examinar-te, sai para dobrar seu joelhos, sai para chorar, sai para orar. Que Deus lhe dê a graça de crer! E, oh! Quão agradável é o pensamento que hoje os pecadores estão indo se refugiar em Cristo, e homens te, nascido de novo em Jesus!
Irmãos, antes de concluir, repito as palavras que causaram tanta controvérsia: é agora ou nunca, é voltar ou se perder . E digo solenemente diante dos olhos de Deus, se não for a Verdade de Deus, eu devo dar conta a Ele naquele grande dia do acerto de contas. Sua consciência lhe diz que é verdade. Leve-a para casa, e zombe de mim se quiserem; hoje eu sou inocente do seu sangue: se alguém não busca Deus, se quer viver no pecado, eu estarei limpo do seu sangue naquele dia quando for cobrado suas almas das mãos do que devia proclamar. Oh, que Deus permita que sejam limpos de uma maneira bendita!
Quando desci as escadas do púlpito no domingo passado, ou talvez, há dois domingos passados, um amigo me dirigiu uma palavras que tem permanecido em minha mente deste então: “Senhor, há nove mil pessoas hoje que não terão nenhuma desculpa no Dia do Juízo”. Isso vale para vocês também hoje. Se forem condenados, não será por falta de pregação para você, nem por falta de oração por vocês. Deus sabe que se meu coração pudesse ser partido por suas almas, eu partiria, porque Deus é minha testemunha, de como eu amo todos vocês o entranhável amor em Jesus Cristo.
Oh! Que Ele mude seus corações e os leve a Ele! Pois a morte é algo solene, a condenação é terrível, estar sem cristo é algo horrendo, estar morto em pecados é algo pavoroso. Que Deus os guie a ver as coisas como são, e os salve por Sua misericórdia! “Aquele que crê e for batizado, será salva.”
“Senhor, esquadrinhe minha alma, prove cada pensamento;
Embora o meu coração não me acuse
De caminhar com um falso disfarce,
Rogo o julgamento dos Teus olhos.
Que perversidade secreta se oculta em mim?
Estou cedendo ante algum pecado desconhecido?
Oh! Mude meus passos quando me extraviares
E conduze-me em Teu caminho perfeito.”
Charles Spurgeon - Sermão pregado na manhã de Domingo, 8 de Fevereiro De 1857 em Londres
Tradução: Charleshadonspurgeon.com
Luís Carlos Fonseca
"Há um inferno terrível,
ResponderEliminarE dores eternas;
Onde os pecadores com o diabo devem morar,
Em trevas, fogo e cadeias.”
Embora eu tenho no meu blogue este lindo sermão de charlles Spurgeon, a biblia não ensina sobre um inferno a arder eternamente. Conferir no meu blogue a respeito do inferno no estudo bíblico nº 16. Abraços