A Secularização, o Mandamento do Sábado e os Profissionais de Saúde
A palavra secularização vem de “saeculum”, que, no latim clássico, significava: século, época e idade. No latim eclesiástico adquiriu o significado de “a vida do mundo” e “o espírito do mundo”. E hoje temos as palavras secularização e secularismo para destacar o estado espiritual mundano de muitos cristãos.
O que leva um cristão a secularizar sua fé?
Há vários fatores, mas menciono apenas aqueles que considero mais urgentes:
1) A falta de vigilância pessoal
Cada crente em Jesus deve estar vigilante e atento contra os ataques do inimigo. O maior esforço da oposição é levar os filhos de Deus a não manter comunhão diária com Ele através do estudo da bíblia e da oração. Cada cristão deve dedicar pelo menos 30 minutos diários para sua comunhão pessoal com Jesus. O estudo da lição da Escola Sabatina, a leitura da meditação matinal e a oração particular, para adquirir o poder e a reconsagração diária; são os elementos espitituais indispensáveis para o sucesso espiritual.
A Palavra assim diz: “Portanto, covém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas.” Heb. 2:1
2) A falta de consagração da família
O seio da família cristã deve ser o local onde se inicia uma vida comunitária de adoração ao Criador. A família deve levar a influência de amor e respeito para a igreja e sociedade. As famílias devem reservar pelo menos dois momentos diários para se reunirem. De preferência um de manhã e outro à noite; à escolha de cada núcleo familiar, o melhor horário. Esses cultos devem ser breves e de modo a se tornarem sempre atrativos e dinâmicos, especialmente para as crianças.
Cada família deve tornar-se numa pequena igreja, “um belo símbolo da família no céu.”DTN, 28 “E à nossa irmã Ápia, e a Arquipo, nosso camarada, e a igreja que está na tua casa.” Filemon V.2
3) A falta de ideal missionário
Gosto muito daquela provérbio popular: “Quem não vive para servir, não serve para viver.” Este jogo de palavras ilustra muito bem o objectivo, porque, como igreja, existimos.
“Todo seguidor de Jesus tem uma obra para fazer como missionário de Cristo, na família, na vizinhança, na vila ou cidade em que reside.” Serviço Cristão pag. 18
Cada um pode realizar pelo menos uma atividade missionária, dentro de suas capacidades e dons espirituais recebidos.
A falta de ideal missionário leva muitos fiéis filhos de Deus a terem sua fé secularizada e uma experiência espiritual frustrada.
Encontramos esta linda declaração sobre o Senhor Jesus: “A vida do Salvador na terra não foi de comodidade e dedicação aos próprios interesses; pelo contrário, Ele atuava com persistente e fervoroso esforço pela salvação da humanidade perdida.” Esperança para Viver, pag. 68 Edição especial do livro Aos Pés de Cristo
Quais são os resultados de uma igreja secularizada?
1) A perda de identidade
Quando não há diferença entre o santo e o profano acontece a perda de identidade. As doutrinas podem ser as mais lindas, se não houver a “diferença” no comportamento moral, nos hábitos e nos costumes do cristão, ele não acrescenta para efeitos de testemunhar sua fé. Pessoas assim geralmente atrapalham, ao invés de ajudar.
Uma igreja assim, além de não crescer numericamente, pode até diminuir.
Jesus disse: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é necessário que venham os escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem.” Mateus 18:6
2) Valorização da forma ao invés do conteúdo
Uma igreja secularizada preocupa-se mais com o exterior. Torna-se defensora das “festas” da igreja, e acaba por participar mais de um “clube social” do que das atividades espiritiuais.
Geralmente um membro de igreja assim, está presente nas festas que a igreja promove como : Almoços de convívio, excursões, comemorações de aniversários e acampamentos.
Mas para as convocações espirituais como: Vigílias, jejuns, santa-ceia, culto de jovens, semanas de oração, reuniões de oração e pequenos grupos, esta mesma pessoa mostra-se desinteressada. Geralmente o cristão secularizado só assite aos cultos no sábado pela manhã.
Jesus foi claro: “Bem invalidais o mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição.” Marcos 7:9
3) Ausência do compromisso bíblico
O cristão secularizado coloca as coisas desta vida como prioridade na ordem de suas preferências. O céu e a eternidade soam aos seus ouvidos como estando muito distantes. Alguém assim, por exemplo, é capaz de trabalhar até 12 horas diárias, mesmo que seja para ver suas economias aumentarem, mas não é capaz de atender, a contento, as necesidades do próximo. Tem o seu coração mais nas coisas deste mundo do que nos temas pertinentes a eternidade. O apóstolo Paulo assim menciona. “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêm; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.” II Cor.4.18
A mente secularizada geralmente adapta os 10 mandamentos ao seu estilo de vida e atropela ou ignora outros mandamentos do Senhor Jesus.
Cito alguns exemplos: “Amai os vossos inimigos.” “Bendizei os que vos maldizem.” “Fazei bem aos que vos odeiam.” “Orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.” Mateus 5: 44
“Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.” Mat. 5.42
Em relação ao serviço da comunhão Jesus disse. “Fazei isto em memória de Mim” I Cor. 11.24
Concernente ao lava-pés foi dito: “Ora se Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis, também, lavar os pés uns aos outros.” S. João 13:14
Concernente aos dízimos e ofertas o mandamento é: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro...” Mal 3:10 “...Deveis fazer estas coisas sem omitir aquelas.” Mat. 23.23
Sobre a frequência à igreja é dito: “Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros...” Heb. 10:25
Sobre o trabalho missionário Jesus ordenou: “ Portanto, ide, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, e do filho e do Espírito Santo.” Mat. 28:19
Deus colocou estes mandamentos no mesmo pé de igualdade que o decálogo. O filho de Deus consagrado e humilde procura praticar todos estes ensinamentos. Já o cristão secularizado procura encontrar desculpas e explicações para não obedecer-lhes.
O Sábado continua em vigor
Desde que iniciei meu ministério pastoral há 25 anos, tenho notado uma secularização por parte de alguns membros da igreja quanto a santificação do dia de sábado. O que antigamente era errado praticar neste dia, hoje parece que já não o é. Aquela atenção e cuidados que se tinha para deixar tudo preparado antes de iniciar o sábado , infelizmente já não se nota em alguns lares Adventistas.
Como nasci em lar Adventista, aprendi que neste dia; não se ia ao rio pescar, ao campo brincar com a bola, ao mar para entrar em suas praias, não se ligava a televisão ou rádio, não realizava viagens particulares e atividades escolares. Alimentos, roupas, calçados e a casa ficavam arranjados e limpos antes do início do sábado. Tudo já devia estar pronto e a familia estava reunida para realizar o culto do pôr-do-sol.
Aprendi que neste dia só se realizava atividades religiosas, missionárias, de acção social e passava-se bons momentos em família.
O sábado constitui o símbolo do relacionamento de Deus com Seus filhos. Os fiéis reservam este dia para a adoração ao Criador como o próprio mandamento pede.
A Santificação do sábado é um privilégio de todas as pessoas. E estende-se também “ao estrangeiro que está dentro das tuas portas.” Exodo 20:10
O Sábado tem seu início na sexta feira à tarde e termina 24 horas depois. “De uma tarde a outra tarde, celebareis o vosso sábado.” Levítico 23.32. “ E tendo chegada a tarde, quando, já se estava pondo o sol...” Marcos 1:32
Para aqueles que não assumem compromissos com Deus em obedecer aos Seus mandamentos e que colocam suas preferências e vontades acima da obediência, o mandamento do sábado não se reveste de tanta importância. Por outro lado, este dia continua sendo santo e especial a vista de Deus, e para as fiéis famílias Adventistas, é um privilégio obedecer.
E os profissionais de saúde Adventistas, estão autorizados a trabalhar no sábado?
O Senhor Jesus não escolhia dias para auxiliar as pessoas necessitadas, e várias curas foram realizadas no dia de sábado. E para combater o espírito legalista dos fariseus, Jesus disse: “...É por consequência, lícito fazer bem nos sábados.” Mat. 12:12
A igreja de Deus na terra procura seguir os passos de Jesus ao implantar hospitais, clínicas e realizar eventos de saúde para continuar o ministério da restauração física, além da cura espiritual das pessoas. E ao redor do mundo a igreja tem tido um grande sucesso em ganhar almas para o reino de Deus através do ministério médico-missionário.
O cumprimento do ministério da saúde é inseparável do ministério total da igreja para levar o evangelho a todo o mundo.
Trabalhei na Associação onde está o Hospital Adventista do Pênfigo e além de assitir vários cultos, também preguei alguns sermões na igreja do Hospital. E pude presenciar algumas conversões como resultado direto do trabalho dos obreiros e funcionários daquela instituição.
Mesmo os médicos, enfermeiros e outros funcionários daquele hospital, quando de plantão aos sábados, eram vistos na escola sabatina, nos cultos de adoração e nos cultos dos jovens à tarde. Somente os trabalhos indispensáveis eram realizados no dia de sábado.
Esta é a orientação bíblica. Esta é a orientação do Espirito de Profecia. Esta tem sido a orientação da Associação Geral dos Adventistas do 7º Dia. E é também a prática adotada em nossas instituições de saúde no dia de sábado. Fazer somente o inadiável para que aqueles que trabalham na área de saúde, possam usufruir das bênçãos de Deus, pertinentes a este dia.
Com o passar dos anos a igreja cresceu, e com ela, o número de médicos e enfermeiros que trabalham em hospitais não Adventistas.
Há médicos e enfermeiros que dão plantão aos sábados em hospitais que não são da igreja e alguns acham que, por ser um trabalho humanitário, não estão quebrando o santo dia do Senhor. Alegam mesmo que nos hospitais de nossa instituição de saúde seus colegas de profissão fazem o mesmo.
O que dizer do nutricionista, do cozinheiro, do telefonista e de cada atendente que trabalha nos hospitais? Não tem eles o mesmo objetivo?
Não viemos a este mundo para ser dietistas, vigilantes ou médicos, mas sim para viver e testemunhar a Verdade por cuja obediência provamos a nossa fé e amor a Jesus.
No caso de uma calamidade pública, em que o médico ou enfermeiro seja solicitado para prestar auxílio, é justo que atenda as vítimas neste dia, e que faça o seu trabalho movido exclusivamente pelo espírito cristão.
Que a ausência dos médicos e enfermeiros nos hospitais seja notada pelo mundo, como testemunho da obediência e fidelidade ao seu Criador.
A Sra. Ellen White escrevendo sobre a guarda do sábado legou à igreja de Deus farto material sobre este mandamento.
Vejamos apenas dois parágrafos:
“Foi-me mostrado em 25 de dezembro de 1865, que tem havido muita negligência com relação à observância do sábado. Não tem havido prontidão para cumprir os deveres seculares durante os seis dias de trabalho dados por Deus ao homem. Nem cuidado de não infringir uma honra ao santo e sagrado tempo que Ele reservou para Si mesmo. Não há ocupação humana que deva ser considerada de tanta importância que faça transgredir o quarto mandamento do Senhor.”
“Há casos em que Cristo deu permissão para trabalhar mesmo no sábado, no salvar a vida de homens e animais. Mas se violamos a letra do quarto mandamento para nosso próprio benefício do ponto de vista pecuniário, tornamo-nos transgressores do sábado, e culpados de transgressão de todos os mandamentos, pois se pecamos em um ponto, somos culpados de todos.” Testemunhos Seletos, vol. 1 pág. 174 ed. 1970
Portanto ninguém pode alegar que trabalhar servilmente num hospital não Adventista durante o sábado, não constitui uma transgressão do quarto mandamento, só porque Jesus disse: “é lícito fazer bem aos sábados.”
Entre as palavras de Jesus e o mero cumprimento de uma obrigação para não perder o emprego, ou por interesse pecuniário, está uma distância infinitamente grande. Quando um membro da igreja Adventista do 7º Dia trabalha em uma empresa, instituição ou hospital em que o trabalho em turnos se faz necessário, logo a questão do sábado apresenta algumas dificuldades.
Sob tais circunstâncias o profissonal de saúde envolvido é aconselhado a seguir os seguintes passos:
1) Buscar a boa vontade dos seus chefes para encontrarem uma solução viável. Por exemplo: Podem procurar um colega de trabalho que deseje subistitui-lo.
2) Pode sugerir certas compensações, como fazer turnos menos desejavéis. Pode sugerir trabalhar aos domingos e feriados. Normalmente o profissional não adventista prefere descansar nestes dias.
3) Quando adventistas procuram trabalhos em hospitais não adventistas, eles devem informar sobre seus princípios de observância do sábado e pedir uma escala de trabalhos que os isente de tarefas neste dia.
4) Quando as escalas de trabalho ou outros fatores tornam isso impossível, os profissionais de saúde, devem deixar bem claro o tipo de trabalho que estão dispostos a executar no sábado, para prover o mínimo cuidado médico e de higiene aos pacientes sob os seus cuidados. E devem estar dispostos a devolver o dinheiro como oferta para a igreja, conforme orientação do Espírito de Profecia.
5) Todos os esforços devem ser seguidos com muita oração e entrega a Deus. Porém, onde alguma das condições acima não forem satisfeitas, nossos membros devem ser leais a Deus, esforçando-se para oferecer um serviço fiel e garantir o seu sustento.
Todas as vezes que os filhos de Deus buscarem a face do Senhor em humilde e contrita oração para obterem um trabalho, o Senhor será fiel em recompensá-los, de modo a não precisarem transgredir o 4º mandamento.
A secularização ou mundanização do Cristianismo é algo que pode acontecer com todos os filhos de Deus. “...Portanto, qualquer que quizer ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tiago 4:4
Quando Jesus retornar à terra será para buscar os salvos. Ele irá encontrar uma “...igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” S. Tiago 5:27
Que Deus abençoe os profissinais de saúde e Sua igreja
Luís Carlos Fonseca
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