domingo, 10 de junho de 2012

REGRAS PARA INTERPRETAÇÃO DOS ESCRITOS DE ELLEN WHITE POR JEROME JUSTESEN


REGRAS PARA INTERPRETAÇÃO DOS ESCRITOS DE ELLEN WHITE POR JEROME JUSTESEN

Apresento aqui (Michelson - Blog Missão Profeta) seis regras para interpretação do Espírito de Profecia, extraídas de uma apostila do professor Jerome Justesen, ex-professor de Teologia, Hebraico e História na Faculdade de Teologia do Instituto Adventista de Ensino (hoje Unasp, campus São Paulo:

I Regra: Confirmar a fonte exata de cada trecho antes de usá-lo.

II Regra: Uma vez confirmado o trecho, ter certeza do contexto histórico. Estudar a Bíblia sem examinar o contexto em Lucas 16:19-31, Filipenses 1:23 e Romanos 10:4, por exemplo, originaria conclusões erradas. Assim é com o Espírito de Profecia. “Quanto aos testemunhos, coisa alguma é ignorada; coisa alguma é rejeitada; o tempo e o lugar, porém, têm que ser considerados” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 57).


• Exemplo A: “Não posso comer feijão, pois é para mim um veneno” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, pág. 494). A Sra. White não estava fazendo de seu estômago regra de fé para todos. No mesmo livro, págs. 491 a 494, é indicado que sua família comia feijão.

• Exemplo B: “Em vossa mesa não se deveria servir ovos” (Testimonies, vol. 2, pág. 400). Isso era um testemunho particular, não aplicável a todos. O livro A Ciência do Bom Viver indica o lugar certo dos ovos na mesa.

• Exemplo C: Muitos usam Ellen White para legislar a moda moderna de vestuário. “Eu diria que na parte do Estado de Michigan onde moramos, temos adotado o comprimento uniforme de nove polegadas acima do assoalho” (Testimonies, vol. 1, pág.5 21). “Minhas visões têm a finalidade de corrigir a moda atual, os vestidos compridos em extremo, arrastando-se sobre o chão, bem como corrigir os vestidos extremamente curtos, à altura dos joelhos, que são usados por certa classe. Foi-me mostrado que devemos evitar ambos os extremos. Se adotarmos uma vestimenta que alcance o cano da bota feminina, escaparemos aos males e a notoriedade de um vestido exageradamente curto” (Testimonies, vol. 1, pág. 464).

“Ninguém deveria ser compelido a adotar o vestuário da reforma” (Ibidem, vol.4, pág.636). Obviamente o conselho literal desses trechos não é mais aplicável. Somente o princípio básico permanece: o vestuário deve ser decente. Temos um paralelo bíblico em Números 15:38-41, conforme Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 473.

III Regra: O Espírito de Profecia não é uma vara para oprimir o povo de Deus. Testimonies, vol. 1, pág. 369: “Os Testemunhos não devem ser utilizados como vara de ferro ou cacetete”; Testimonies, vol. 1, pág. 382: “Não se deve usar as visões de Ellen White como regra para medir tudo.” Aqueles que duvidam do Espírito de Profecia “não deveriam ser destituídos dos benefícios e privilégios da igreja, se sua conduta cristã for, no entanto, correta e se têm formado um bom caráter cristão” (Testimonies, vol. 1, pág. 328).

Deve-se trabalhar com os irmãos mais fracos, no espírito de amor e mansidão. “Podemos ser tão severos quanto quisermos ao nos disciplinar-mos a nós mesmos, mas devemos ser bastante corteses para não impelirmos as almas ao desespero” (Testimonies, vol. 3, pág. 507).

Nunca se deve usar o Espírito de Profecia de maneira dogmática, porque Ellen White não era dogmática. “Não devemos ir mais rápido do que podemos levar conosco aqueles cuja consciência e intelecto está convencido das verdades por nós advogadas. Devemos procurar o povo onde este se encontra. Alguns de nós temos levado anos para chegar até nossa presente posição na reforma pró-saúde... Se concedermos ao povo tanto tempo quanto de nós foi requerido para alcançarmos o presente estado avançado na reforma, seríamos muito pacientes com eles e permitiríamos que avançassem degrau após degrau, como nós o fizemos, até que seus passos se estabelecessem firmemente sobre a plataforma da reforma pró-saúde. Mas precisamos ser muito cautelosos para não avançarmos com muita rapidez, não aconteça termos de refazer nossos passos. Em reformas é preferível nos mantermos a um passo aquém do marco do que avançar um passo além. E se houver algum erro qualquer, que seja para o lado em que estiver o povo" (Testimonies, vol. 3, págs. 20 e 21).

IV Regra: Não buscar novas doutrinas no Espírito de Profecia.

Algumas pessoas passam mais tempo estudando os escritos do Espírito de Profecia do que a própria Bíblia. “Nossa atitude e crença têm por base a Bíblia. E nunca queremos que alma nenhuma faça prevalecer os Testemunhos sobre a Bíblia” (Evangelismo, pág. 256). As visões de Ellen White nunca foram dadas para usurpar o lugar certo da Bíblia. Como Martinho Lutero, podemos dizer: “A Bíblia, e a Bíblia somente.”

“Constituem os escritos da Sra. E. G. White para a igreja de Cristo uma nova Bíblia? Positivamente, respondemos: Não. Constituem eles um acréscimo ao Cânon Sagrado? Respondemos outra vez sem reservas: Não” (F. M. Wilcox, O Testemunho de Jesus, pág. 67). “Pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor deu uma luz menor para levar homens e mulheres à luz maior” (O Colportor-Evangelista, pág. 37).

“Na visão que me foi dada em 12 de junho de 1868, foi-me mostrado o perigo do povo de Deus olhar para o irmão e a irmã White pensando que devem trazer-lhes suas cargas, e deles buscar conselho. Isto não deveria acontecer... Muitos vêm a nós com a pergunta: Deverei fazer tal coisa? Devo envolver-me em tal negócio? Ou, com respeito ao vestuário, devo vestir este ou aquele artigo? A tais eu respondo: Vós professais ser discípulos de Cristo; estudai vossas Bíblias.

Lede cuidadosamente e com oração o relato de vida de nosso querido Salvador ao viver entre os homens sobre a Terra. Imitai Seu viver, e não vos encontrareis desviados do caminho estreito. Nós recusamos veementemente servir como consciência para vós. Se vos dissermos justamente o que deveis fazer, olhareis para nós a fim de que vos guiemos, em vez de olhardes a Jesus diretamente por vós mesmos.

Vossa experiência estará alicerçada em nós. Precisais adquirir uma experiência por vós mesmos, a qual deverá estar fundamentada em Deus” (Testimonies, vol. 2, págs. 118 e 119).
Nunca na história da Igreja as visões da Sra. White foram dadas para ocupar o lugar do estudo sincero da Bíblia. As doutrinas adventistas foram estabelecidas numa série de reuniões em 1848 (os Congressos do Sábado). Nesses congressos, a Sra. White não fez nenhuma contribuição significativa. Ela recebeu visões sobre esses pontos doutrinários somente depois dos congressos, para confirmar as decisões já tomadas.

“Durante todo o tempo eu não compreendia o raciocínio dos irmãos. Minha mente estava como que bloqueada, e eu não podia entender o significado das Escrituras que nos dedicávamos a estudar. Isto era um dos maiores sofrimentos da minha vida. Permaneci em tal condição mental até que todos os principais pontos de nossa fé foram feitos claros para nossas mentes em harmonia com a Palavra de Deus” (Special Testimony, Série B, nº 2, págs. 56 e 57).

“Deve ser esclarecido que todas estas opiniões sustentadas pelo corpo de observadores do sábado foram extraídas das Escrituras, antes que a Sra. White tivesse qualquer visão com respeito a elas. Estes sentimentos estão fundados sobre as Escrituras como sua única base” (Tiago White, em Review and Herald, 16 de outubro de 1855).

Por isso, o verdadeiro propósito do Espírito de Profecia é:
1. Conduzir os homens à Bíblia, que eles têm negligenciado (Testimonies, vol. 2, pág. 455);
2. Corrigir aqueles que se desviam da Verdade da Bíblia (Ibidem);
3. Simplificar a Bíblia e esclarecer sua mensagem.

“O irmão R. confundiria a mente, querendo fazer parecer que a luz dada por Deus mediante os Testemunhos seja uma adição à Palavra de Deus; mas nisso ele apresenta o assunto sob falsa luz.... Os Testemunhos escritos não têm por objetivo acrescentar nova luz, mas impressionar vividamente o coração com as verdades da inspiração, já reveladas. Nenhuma verdade adicional é apresentada; porém, mediante os Testemunhos, Deus tem simplificado as grandiosas verdades já concedidas... Os Testemunhos não são dados para diminuir a Palavra de Deus, mas para exaltá-la e atrair para ela as mentes” (Testimonies, vol. 5, págs. 663-665).

V Regra: Distinguir entre a aplicação literal e a aplicação espiritual dos textos bíblicos. Uma regra fundamental de exegese bíblica é a seguinte: “Cada texto tem somente uma aplicação literal.” Mas escritores inspirados mais tarde fazem freqüentemente uma aplicação espiritual de textos nos quais essa aplicação não era evidente para os escritores originais. Desde que essas aplicações espirituais se baseiem numa interpretação mística, não têm valor para uma exegese literal. Como ilustrações bíblicas deste ponto, comparar Oséias 11:1 e Mateus 2:15; Isaías 52:7 e Romanos 15:10; Isaías 2:19-21 e Apocalipse 6:15; Jeremias 50 e 51; e Apocalipse 16 a 19. A Sra. White interpreta do mesmo modo milhares de textos do Antigo e do Novo Testamentos.

• Exemplo A: Levítico 22:19-25. Ela faz as seguintes aplicações:
1. Por meio de intemperança, apresentamos a Deus “um sacrifício imperfeito” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, págs. 20 e 21).
2. Aqueles que não devolvem o dízimo honestamente, apresentam uma “oferta defeituosa, um sacrifício maculado” (Testimonies, vol. 1, pág. 194).
3. A igreja egoísta que recusa sacrificar os seus meios para levar avante a causa de Deus, apresenta um sacrifício “defeituoso” (Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 31).
4. Cristãos orgulhosos e não consagrados levam a Deus “um sacrifício imperfeito” (Obreiros Evangélicos, pág. 114).
5. Pregadores preguiçosos que não estudam para preparar os seus sermões apresentam a Deus “um sacrifício maculado” (Testimonies, vol. 6, pág. 412).
6. Obreiros que não se preparam espiritualmente para as suas responsabilidades oferecem a Deus “um sacrifício maculado” (Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 178).

• Exemplo B: I Coríntios 2:9. A Sra. White interpreta “as coisas que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram”, como:
1. As glórias do Céu (Educação, pág. 301; O Grande Conflito, pág. 675;Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, pág. 168).
2. As belezas da natureza, neste mundo, como símbolo do lar celestial (O Lar Adventista, pág. 548; Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, pág. 49).
3. “As glórias do Céu e os preciosos tesouros da Palavra de Deus” (The SDA Bible Commentary, vol.6, pág. 1.107).
4. A incompreensível natureza de Deus (O Desejado de Todas as Nações, pág. 412).
5. As riquezas eternas do cristão (Conselhos Sobre Mordomia, pág. 84).
6. Os grandes temas de salvação que devemos considerar no sábado - a encarnação, a Bíblia, a santificação, a verdade, a graça (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, pág. 342).
7. O efeito da redenção no coração - o glorioso destino do homem (O Maior Discurso de Cristo, págs. 61 e 62).
8. As nobres realizações intelectuais do homem (Testimonies, vol. 4, pág. 446).
Obviamente para usar qualquer desses trechos numa exegese literal, precisamos fazer um estudo profundo do texto bíblico na linguagem original, antes de citar do Espírito de Profecia.

VI Regra: Lembrar que o Espírito de Profecia não foi dado como um guia infalível para informações na periferia.

Não podemos crer na posição da inspiração verbal. Os fundamentalistas ensinam que as cópias originais dos escritos de qualquer profeta eram sem erro, porque foram inspirados verbalmente. A Sra. White rejeitou tais idéias, ensinando que Deus deu ao profeta a idéia básica em visão, deixando-o livre para escolher as palavras apropriadas. “Os escritores da Bíblia tiveram de exprimir suas idéias em linguagem humana. Ela foi escrita por seres humanos” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 19).

“A Bíblia não nos é dada em elevada linguagem sobre-humana. A fim de chegar aos homens onde eles se encontram, Jesus revestiu-Se da humanidade. A Bíblia precisa ser dada na linguagem dos homens. Tudo quanto é humano é imperfeito” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 20). “Não são as palavras da Bíblia que são inspiradas, mas os homens é que o foram. A inspiração não atua nas palavras do homem ou em suas expressões, mas no próprio homem que, sob a influência do Espírito Santo, é possuído de pensamentos” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 21).

A respeito de seus próprios escritos, ela escreveu: “Se bem que eu dependa tanto do Espírito do Senhor para escrever minhas visões como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são minhas, a menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre ponho entre aspas” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 37).

Estes fatores são evidentes no auxílio que Tiago White deu à esposa: “Enquanto meu esposo vivia, ele servia de auxiliar e conselheiro no envio das mensagens que me eram apresentadas... A instrução que eu recebia em visão era fielmente escrita por mim, conforme tivesse tempo e forças para a tarefa. Posteriormente examinávamos juntos a matéria, corrigindo o meu esposo os erros gramaticais e eliminando repetições desnecessárias. Então era copiada cuidadosamente (e enviada) para as pessoas às quais se dirigia, ou para publicação" (The Writing and Sending Out of the Testimonies to the Church, págs. 4-6).

A Review and Herald de 27 de novembro de 1883 publicou esta decisão da Associação Geral (feita numa comissão, em 20 de novembro):

“33. Considerando que muitos desses Testemunhos foram escritos sob as mais desfavoráveis circunstâncias, achando-se a escritora demasiado premida pela ansiedade e o labor para dedicar atenção crítica à perfeição gramatical dos escritos, e eles foram impressos em tal pressa que permitiu que essas imperfeições passassem sem correção; e "Considerando que acreditamos que a luz dada por Deus a Seus servos é pela iluminação da mente, comunicando assim pensamentos, e não (exceto em raros casos) as próprias palavras em que as idéias devem ser expressas;

"Fica resolvido: Que na publicação desses volumes, sejam feitas as correções verbais necessárias para remover as mencionadas imperfeições, o quanto possível sem qualquer mudança do pensamento" (Actions of the General Conference, 20 de novembro de 1883).

"Por isso concluímos: a mensagem central do profeta (verdadeiro) é infalível. Não pode errar. Mas assuntos na periferia podem conter erros, que, no entanto, são inconseqüentes. “As Escrituras Sagradas devem ser aceitas como uma revelação autoritária e infalível de Sua vontade” (Introdução de O Grande Conflito).

Arthur White, numa pesquisa intitulada Toward a Factual Concept of Inspiration, págs. 8 e 9, declara o seguinte: “Ela não disse que o fraseado das Escrituras é infalível, mas que as Escrituras provêm de uma revelação infalível.” A revelação da vontade de Deus é autoritária e infalível, mas a linguagem usada em comunicá-la aos homens não é infalível.

Por isso, essa “periferia” inclui:
1. As palavras, a lógica e a retórica do profeta. “A Bíblia é escrita por homens inspirados, mas não é a maneira de pensar e exprimir-se de Deus. Esta é a da humanidade. Deus, como escritor, não Se acha representado. Os homens dirão muitas vezes que tal expressão não é própria de Deus. Ele, porém, não Se pôs à prova na Bíblia em palavras, em lógica, em retórica” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 21).

2. Erros devido à memória defeituosa do profeta. Conforme I Coríntios 1:14-16, onde Paulo esqueceu quantos havia batizado em Corinto.

3. Às vezes, o profeta pode depender de fontes humanas para informação inconseqüente. “Um profeta está de posse de muitos ramos do conhecimento comum, e sua mente tem sido iluminada pelas revelações recebidas de Deus. Ele leva, em grande proporção, a responsabilidade para escolher o tempo, lugar e conteúdo da apresentação sob influência do Espírito Santo. Embora deva exercer grande cuidado para que sua mensagem não seja influenciada em seus conceitos básicos por suas próprias opiniões ou pelo pensamento de seus contemporâneos, em sua apresentação poderá usar, porém, alguns itens de informação que constituem objeto de conhecimento comum, tais como a distância entre lugares, o local de um dado acontecimento ou o tempo de um evento comumente conhecido” (Arthur White, op. cit., pág. 9).

4. A informação pode ser retida do profeta, pelo Senhor. “Tenho ainda muito a vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (João 16:12). “Não é necessário saber tudo para ser um profeta verdadeiro... ‘Vêem’ os profetas sempre toda a verdade duma vez? O estudo da Bíblia nos permite responder: Não” (F. D. Nichol, em Ellen G. White and Her Critics, pág. 98).
Em conclusão, a Sra. White nunca teve a pretensão de ser infalível. “Com relação à infalibilidade, nunca a pretendi; unicamente Deus é infalível” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág.37).

(Nota Adicional: Tive o privilegio de ter o pastor Jerome Justesen como professor, diretor e paraninfo - Hanni).

Luís Carlos Fonseca

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