Igreja Adventista do 7º Dia - 150 anos
Introdução - Texto bíblico: I Samuel 7:12, II Pedro 3:11-13
Há 150 anos, a nossa Igreja nasceu como uma organização
religiosa reconhecida, com um nome, um conjunto de doutrinas, um grupo de
crentes, uma sede, uma missão e mais. Embora todos esses aspetos estivessem em
desenvolvimento, agradecemos a Deus por ter inspirado pessoas a terem uma visão
e a tornarem-na realidade.
Como uma nova denominação aparentemente insignificante – uma
entre milhares de outras comunidades de fé que se desenvolveram em solo
americano – os Adventistas, num século e meio, tornaram-se uma igreja mundial
vibrante, com cerca de 18 milhões de membros batizados. Hoje, ela continua a
ser uma das organizações cristãs com crescimento mais rápido no mundo.
Honestamente, na Europa, apenas temos uma ideia muito vaga
da história da nossa Igreja. Sabemos que o Adventismo se originou nos Estados
Unidos, e sabemos muito pouco acerca do desenvolvimento do Adventismo no nosso
próprio país.
O que sabemos é que somos uma Igreja que acredita na Segunda
Vinda de Jesus, que respeita o Sábado como o sétimo dia do mandamento, que
adota um estilo de vida que respeita o património de saúde que Deus nos deu na
Criação, e que baseia as suas crenças na Bíblia toda.
Hoje vamos fazer uma pequena viagem para encontrarmos a
história da nossa Igreja. Não se trata de uma simples lição de História, mas
ler acerca da direção de Deus no passado só pode fortalecer a nossa fé e a
nossa confiança no futuro do nosso Movimento Adventista.
A história Adventista
A história da nossa Igreja Adventista do Sétimo Dia começa
com o movimento millerita.
Os milleritas acreditavam firmemente que o “segundo advento”
de Jesus Cristo (a Sua segunda vinda à Terra) ocorreria em 22 de outubro de
1844. Quando essa segunda vinda não se deu, muitos milleritas ficaram
desiludidos e perderam a fé no segundo advento; mas outros voltaram a estudar
as Escrituras.
Nos 15 anos seguintes, antigos milleritas, que se
encontraram numa série de “conferências bíblicas”, identificaram uma quantidade
de verdades bíblicas esquecidas desde os dias da Igreja primitiva. As verdades-chave
que eles adotaram foram:
1. A segunda vinda de Cristo é iminente e será literal, não
metafórica, vista por todo o mundo.
2. Que o sétimo dia, o Sábado, não o Domingo, é o dia de
repouso indicado por Deus e que a obrigação de o guardar é perpétua.
3. Que Deus não atormenta os pecadores eternamente, mas que
os mortos “dormem” até à segunda vinda e ao juízo final.
4. Que Cristo ministra no santuário celestial, mediando
assim para nós os benefícios da Sua morte na cruz, salvando-nos pela Sua
justiça, não pelas nossas obras.
5. Que, nos últimos dias, os cristãos serão tentados pela
apostasia, mas serão chamados de novo à verdade divina – a “mensagem dos três
anjos” de Apocalipse 14 – por um pequeno “remanescente” de crentes fiéis.
6. Que o remanescente seria marcado pela existência de um
ministério profético.
Em tudo isto, foram guiados por uma jovem mulher, Ellen G.
Harmon, que, em seguimento da sua sexta crença, eles reconheceram como profeta,
inspirada por Deus.
Os Adventistas apareceram gradualmente. Nos anos de 1850,
não havia nenhuma Igreja Adventista do Sétimo Dia – apenas pequenos grupos
espalhados pelo Norte dos Estados Unidos, que tinham essas crenças em comum, mas
que nem sequer tinham um nome para si mesmos, embora alguns, como Tiago White,
se identificassem como pertencendo ao “Grande Movimento do Segundo Advento”,
enquanto outros usavam o termo “adventista sabatista”.
Mas, por fim, inspirados pela grande comissão dada por
Cristo de “ir e fazer discípulos”, os adventistas sabatistas reconheceram a
necessidade de se organizarem, de modo a poderem mais eficazmente e mais
amplamente proclamar a terceira mensagem angélica.
Um passo vital foi dado por uma reunião de delegados de todo
o Norte dos Estados Unidos no dia 1 de outubro de 1860, que concordaram em
“tomar o nome de Adventistas do Sétimo Dia”. Depois, no dia 20 de maio de 1863,
numa reunião posterior, delegados de todos os estados americanos em que havia
congregações Adventistas do Sétimo Dia, formaram a “Conferência Geral dos
Adventistas do Sétimo Dia” – uma igreja organizada, focada na missão e na
proclamação das boas novas de um Deus que nos criou, que viveu entre nós, que
morreu por nós e que nos redime.
Uma igreja que surgiu de uma visão jovem
Durante os anos formativos do movimento, os seus líderes
eram maioritariamente jovens, nos anos finais da sua adolescência, vinte e
trinta. No momento do Grande Desapontamento de 1844, Tiago White tinha 23;
Ellen White e Annie Smith tinham 16; John N. Andrews tinha 15 e Minerva
Loughborough ainda não tinha 15. Uriah Smith e John Loughborough (irmãos de
Annie e de Minerva) tinham apenas 13, e George I. Butler tinha só 10 anos.
Contudo, foram estes jovens homens e mulheres, ajudados por
pessoas mais idosas, como Joseph Bates (que, em 1844, tinha 52 anos), que
tomaram a dianteira nas conferências bíblicas do final dos anos de 1840 e 1850,
durante as quais as crenças do que se tornou a Igreja Adventista do Sétimo Dia
foram discutidas, debatidas e aceites. Foram eles que publicaram uma série de
panfletos, apresentando de forma persuasiva as novas crenças, assim como uma
revista, The Advent Review and Sabbath Herald (a Revista Adventista americana
de hoje), que ligava todos os crentes espalhados por toda a parte, e sem a qual
a Igreja nunca teria sido fundada.
Foram eles que dirigiram os esforços para transformar a rede
de pequenos grupos de crentes numa organização que uniria todos os Adventistas
do Sétimo Dia e providenciaria a base para a missão. Muitos dos jovens de 1850
foram líderes da Igreja até aos anos de 1880, e alguns até ao século XX.
Embora só homens estivessem presentes na Sessão que deu
origem à Conferência Geral, em 1863, entre os membros da recém-formada Igreja
as mulheres eram proeminentes.
Hoje, vemos fotos dos nossos pioneiros no fim da sua vida,
com a sua face marcada pelo esforço de vidas de lutas contra circunstâncias
tremendas. É fácil esquecer que eles criaram a nossa Igreja quando estavam nos seus vinte e
trinta – os Adventistas deram às mulheres papéis importantes na liderança, e é
muito pouco conhecido que em 1850, não só a maioria dos crentes era
abolicionista fervorosa, mas também que, no final do século XIX, quando os
negros e os chineses estavam a ser relegados para cidadãos de segunda classe
nos Estados Unidos, os Adventistas do Sétimo Dia ordenavam-nos para o
ministério e confiavam-lhes importantes tarefas missionárias. Ao fazerem isto,
os Adventistas desafiavam a sociedade americana da época, que não valorizava
muito a juventude e marginalizava as mulheres e as minorias étnicas.
Uma Igreja com raízes profundas
Os Adventistas do Sétimo Dia acreditam que a Reforma do
século XVI não foi apenas um evento que marcou uma época, mas que foi o
trabalho de Deus ao chamar os cristãos para exaltarem o coração da mensagem
evangélica. No início da história dos Adventistas do Sétimo Dia, Ellen White
escreveu: “Erguendo a voz contra os erros e pecados da igreja papal, [Lutero]
esforçou-se com ardor para romper a cadeia de trevas que prendia milhares, e os
fazia confiar nas obras para a salvação. Almejava poder patentear ao espírito
deles as verdadeiras riquezas da graça de Deus e a excelência da salvação…”
(Primeiros Escritos, p. 223).
Assim, os historiadores da Igreja Adventista na Europa
muitas vezes tiraram da Reforma elementos importantes para a compreensão que a
Igreja Adventista tem de si própria. Tantos os Reformadores como os Adventistas
hoje se veem como um movimento de protesto, de reforma baseado na Bíblia.
Quatro pontos importantes em que se baseia todo o mundo
protestante:
– Sola Scriptura – Só a Bíblia, significa que tudo o que diz
respeito à fé e à vida cristãs deve ser tirado apenas das Escrituras.
– Sola Gratia – Só pela graça, significa que a redenção está
isenta de todas as obras humanas e que a salvação do homem está enraizada
apenas na misericórdia de Deus.
– Sola Fide – Só pela fé, significa que a nossa aceitação
por Deus é conseguida através da confiança na obra da salvação realizada por
Cristo.
– Solo Cristo – Só por Cristo, significa que Cristo é o
único mediador entre Deus e o homem. Não há outro mediador no Céu nem na Terra.
Uma Igreja com uma missão
Demorou algumas décadas até que os Adventistas
compreendessem que tinham uma missão que se estendia para além das fronteiras
dos Estados Unidos da América. Inicialmente, eles acreditavam que “todo o
mundo” se podia encontrar entre os imigrantes que tinham deixado “o velho
mundo” à procura de um futuro melhor. Mas isso mudou rapidamente.
John Neville Andrews, o primeiro missionário oficial
Adventista, partiu para a Europa em 1874. Antes do fim do século, os
missionários Adventistas tinham chegado a todos os continentes. Por essa
altura, o mandato de Cristo de pregar o evangelho “em todo o mundo” foi, sem
hesitação, aplicado à missão da Igreja Adventista: a proclamação mundial da
‘mensagem dos três anjos’.
Ao longo dos anos, a consciência missionária flutuou devido
a circunstâncias externas e internas, mas permaneceu forte. Os anos de 1920 e
início dos anos 30 foram, provavelmente, a época de maior zelo missionário. Um
novo esforço missionário para alcançar “todos os povos” foi lançado com a
iniciativa da “Missão Global” de 1990.
Uma Igreja com uma teologia
O Adventismo vê-se a si mesmo como um movimento enraizado na
Reforma do século XVI, em particular na obra de Lutero e dos reformadores
“radicais”. Mas, tendo começado, como começou, na América do Norte do século
XIX, também foi fortemente influenciado por vários movimentos protestantes
desse período, como a Conexão Cristã e o Metodismo.
Demorou a maior parte do século XIX para a Igreja Adventista
do Sétimo Dia definir a sua teologia. Isto foi verdade não só em relação às
doutrinas específicas Adventistas, mas também em relação aos fundamentos da fé
cristã.
Assim, o Adventismo passou de uma teologia com tendências
sectárias para uma teologia que combina a essência do Protestantismo original
com uma quantidade de perspetivas específicas – tais como a perspetiva
específica do santuário ou sobre o permanente papel profético de Ellen White.
Uma Igreja com uma responsabilidade social.
Praticamente desde o seu início, o Adventismo defendeu que a
pessoa humana não está dividida num componente espiritual e noutro não
espiritual, mas que é um todo, um ser indivisível, que deve ter uma fé e um
estilo de vida que combinem “a cabeça, o coração e a mão”. Isso explica a
ênfase no viver saudável e na mordomia em outras áreas da vida. Mais ainda,
levou ao estabelecimento, desde cedo, de instituições de saúde inovadoras e de
milhares de instituições educacionais de diferentes níveis. Além disso,
inspirou atividades de beneficência que acabaram por evoluir para a criação da
ADRA – uma rede mundial de desenvolvimento e de apoio em caso de desastre, com
escritórios em centenas de países.
Uma Igreja que avança com os tempos
Os Adventistas sempre estiveram na linha da frente no uso de
novas tecnologias, e, mais recentemente, dos meios de comunicação e da
Internet. A primeira instituição da Igreja foi uma tipografia. A simples
empresa tipográfica que foi iniciada por Tiago White foi o começo de uma
bem-sucedida rede de casas publicadoras denominacionais.
A Igreja compreendeu bastante cedo o potencial evangelístico
da rádio, e construiu estúdios em todo o mundo, quer estabelecendo as suas
próprias estações quer comprando tempo em estações existentes para emitir
programas evangelísticos e de saúde. Há mais de 40 anos que a Rádio Mundial
Adventista usa a rádio em ondas curtas para evangelizar os “não alcançados”, ou
as pessoas difíceis de ser alcançadas, com programas em mais de 80 línguas.
Quando a televisão se tornou mais vulgar, a Igreja Adventista foi das primeiras
organizações religiosas a utilizar esse novo meio. Foi também esse o caso
quando a tecnologia por satélite tornou possível fazer campanhas evangelísticas
simultaneamente em muitos lugares diferentes. Hoje, o Hope Channel tem a sua
programação 24 horas por dia, sete dias por semana, em todo o mundo, em cada
vez mais línguas.
A Internet hoje é a principal via para veicular a
maravilhosa mensagem que estamos a pregar. Não se trata apenas de uma página na
net, mas do uso das redes sociais e de máquinas inteligentes. Porquê? Porque a
intenção é alcançar o público da porta ao lado com o objetivo de partilhar a
mensagem tanto quanto possível. Jesus disse: sobre os telhados será apregoado
(Lucas 12:3).
Uma Igreja unida
A maioria das denominações Protestantes sofreu numerosas
divisões e cisões. Por exemplo: há muito mais de 200 denominações Batistas no
mundo hoje, e mais de 140 denominações Luteranas. Em comparação, o Adventismo
permaneceu notavelmente unido. A forma como o Adventismo está organizado
certamente tem muito a ver com isso. Continua a haver uma notável unidade na
forma como a Igreja opera. Todas as 70 000 igrejas e os 65 000 grupos em todo o
mundo usam o mesmo material e seguem, em larga medida, os mesmos programas e
normas de funcionamento. Os vários níveis da Igreja estão em constante contacto
uns com os outros. Frequentes visitas e consultas, e publicações e reuniões
internacionais têm um papel importante em manter os crentes Adventistas unidos
na sua fé e no seu estilo de vida, e em mantê-los focados na missão da Igreja.
Nada a temer?
Uma das declarações mais citadas de Ellen White diz-nos:
“Nada temos a temer do futuro, a não ser que esqueçamos o modo como o Senhor
nos dirigiu, e os Seus ensinos no passado” (Mensagens Escolhidas, vol. 3, p.
162). Esta afirmação é tão verdadeira passados 150 anos de história Adventista
como era há um século. Mas não nos liberta da nossa responsabilidade de
aprendermos com o nosso colorido e inspirador passado e de combinarmos fé,
criatividade e coragem nos nossos esforços para aprendermos com a nossa
história, e de enfrentarmos o futuro com a convicção de que o Senhor irá
continuar a dirigir-nos, enquanto estivermos dispostos a manter os nossos olhos
abertos para descobrirmos os nossos caminhos por onde Ele nos quiser levar. Ao
celebrarmos 150 anos de Adventismo, a nossa oração deveria ser: Obrigado,
Senhor, pelo que já nos ensinaste, mas ajuda-nos a continuar a aprender…
Alguma informação acerca da nossa região eclesiástica
europeia
A Igreja Adventista do Sétimo Dia está presente na Áustria,
Bulgária, República Checa, França, Alemanha, Itália, Portugal, Roménia,
República Eslovaca, Espanha e Suíça. A sede para a nossa região está em Berna,
na Suíça, e somos quase 180 mil membros.
Como organização religiosa temos a nosso cargo muitos
serviços que também estão disponíveis para a comunidade, como escolas (quase
todos os países têm uma escola, ou um seminário de teologia, colégios, escolas
primárias), hospitais (Waldfriede, em Berlim, e La Lignière, na Suíça), casas
publicadoras (em quase todos os países), centros multimédia (em Portugal,
Espanha e Alemanha, como Centro multimédia da Divisão), rádio e TV, lares de
idosos, atividades de jovens e muitas outras que podem descobrir se procurarem
no quadro Adventista Europeu.
Passados 150 anos
Ao destacarmos os 150 anos da Igreja Adventista do Sétimo
Dia unida para a missão, há, mais do que nunca, a necessidade de homens e
mulheres Adventistas de todas as idades, e de todas as etnias e origens
sociais, seguirem o exemplo dos seus fundadores. Fundados no amor ao nosso
Salvador e no Seu amor pelos pecadores, precisamos de proclamar Cristo, e Ele
crucificado, o Seu anseio de que os homens e mulheres sejam perfeitos, e o Seu
desejo de que “guardemos os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apoc. 14:12)
O nosso 150º aniversário não é um tempo para festa ou
celebração – aqueles que fundaram a Conferência Geral em maio de 1863 ficariam
certamente profundamente desapontados se soubessem que os seus descendentes
ainda estavam na Terra em 2013. Este importante aniversário é, antes, um tempo
para reflexão; para arrependimento; para agradecimento, e para uma renovada entrega
ao propósito para o qual Deus chamou este movimento à existência.
Este importante aniversário deveria levar-nos a refletir
sobre o modo como Deus dirigiu a Sua Igreja remanescente “e os Seus ensinos no
passado” (ME, vol. 3, p. 162). Deveríamos agradecer-Lhe pela sua miraculosa
direção – e refletirmos sobre o que temos feito, e deixado de fazer, que
entristece Deus, e arrependermo-nos. É uma boa altura para nos entregarmos, individual
e coletivamente, não só a um “reavivamento, mas a uma reforma”, como disse
Ellen White (R&H¸ 15 de julho de 1902, p. 7). É tempo de nos consagrarmos
de novo a pregar “o evangelho eterno… a toda a nação, tribo, língua e povo”
(Apoc. 14:6).
Que o Senhor nos ajude a dizer como Pedro: aguardando e
apressando-nos para a vinda do nosso Senhor Jesus.
Pr. Corrado Cozi | Departamental de Comunicação da Divisão
Inter-Europeia – Oferecido por Depto de Comunicações da UPASD
Luís Carlos Fonseca
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