Infidelidade Conjugal
Homens e mulheres traem por motivos diferentes. Mas, em
qualquer de suas formas, a infidelidade continua causando sérios danos.
Ela está entre nós há muito tempo, mas nem por isso nos
acostumamos com sua realidade. A notícia da infidelidade no casamento ainda
choca, traumatiza, entristece e fragmenta famílias em todo o mundo. Porém, se
ela é tão prejudicial, por que ainda faz parte do cotidiano da sociedade?
Com certeza, ninguém acorda obstinado de um dia para o outro
e diz: “Vou trair meu cônjuge hoje!” Esse é um processo lento que pode ter
contornos diferentes para homens e mulheres. Isso é o que revela uma pesquisa
conduzida pela professora Mirian Goldenberg, do Departamento de Antropologia
Cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo, que vem sendo realizado desde 1989, já
abrangeu cerca de 1.300 pessoas de ambos os sexos.
Segundo a investigação, os homens ainda traem mais que as
mulheres – 60% dos homens pesquisados confessaram a traição, contra 47% das
mulheres. Porém, as mulheres traem mais na atualidade do que há 20 anos. O que
mais motiva a mulher a trair é a insatisfação com o marido ou a vingança por
uma traição que tenha sofrido. Ela acaba procurando em outro homem um amigo,
companheiro, cúmplice, e raramente consegue manter envolvimento com dois homens
por muito tempo; tende logo a uma definição.
Em contrapartida, quando o homem trai, ele pode passar anos
com uma vida dupla, convivendo “tranquilamente” com a esposa no âmbito social e
buscando na amante a satisfação sexual. A maioria deles considera que a própria
natureza masculina é a responsável pela traição. Essa ideia também é sustentada
pela sociedade, que é muito mais tolerante com a traição masculina do que com a
feminina. As mulheres experimentam mais repressão em questões de cunho sexual
do que os homens.
A traição pode acontecer de várias formas, com danos
igualmente consideráveis. Vale atentar, pelo menos, para três tipos de traição:
a imaginária (vivenciada na fantasia da pessoa, sem que haja, necessariamente,
a participação consciente do outro), a virtual (muito popular em nossos dias,
podendo incluir desde o acesso à pornografia online até um relacionamento
virtual com uma pessoa específica) e a real (um estágio mais avançado do que as
anteriores e que inclui o contato físico). À medida que a traição avança, o
parceiro vai se esvaziando na vida do outro. Quando menos se percebe, ele não
está mais lá. Ainda que os dois dividam a mesma casa, caminham silentes em sua
solidão.
Se você for fiel a um princípio de vida e não apenas a uma
pessoa, terá mais chance de resistir à tentação de trair. Tanto traidor como traído sofrem. O primeiro experimenta
perda da integridade, forte sentimento de culpa, angústia, medo de ser
descoberto e confusão de sentimentos. O segundo sente dor, decepção, rejeição,
tristeza, medo quanto ao futuro, perda da autoestima, raiva e desespero, entre
outras coisas. Ambos podem experimentar depressão e precisar de ajuda. Os danos
tendem a aumentar quando crianças estão envolvidas.
Muitas vezes, o relacionamento extraconjugal, que no momento
de euforia trouxe a sensação de vivacidade, parece algo deslocado, que não se
encaixa na vida da pessoa. É como beber água quando se está com sede: tão logo
a sede passe, não faz sentido ficar perto do bebedouro. E acomodar um bebedouro
na vida nem sempre é fácil; pode dar muito trabalho. É por isso que a traição
virtual tem sido popular. Ela possibilita passos mais curtos antes do envolvimento
concreto. Esses passos, contudo, não são menos perigosos. Sem perceber, a
pessoa está construindo uma armadilha para si mesma, da qual terá muita
dificuldade para se desvencilhar.
Seja fiel a um princípio de vida, e não apenas a uma pessoa,
pois, neste caso, a chance de traição surgirá quando ela não estiver presente.
Se você for fiel a um princípio de vida, não importa a oportunidade nem a
ocasião, será mais fácil resistir. A fidelidade por princípio independe do
outro.
Se necessário, busque ajuda, pois, como disse alguém, “a traição pode
ser questão de escolha ou oportunidade, mas, se persistir, torna-se uma questão
de caráter”. [Imagem: William de Moraes]
Autora: Talita Borges Catelão; psicóloga clínica, sexóloga e
doutora em ciências. Extraído da R.A de Abril 2015 – CPB
Luís Carlos Fonseca
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