A Unidade Cristã - Capitulo 25 do livro Testemunhos para a
Igreja Volume 5, páginas 236-247
“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões;
antes sejais unidos em um mesmo sentido e em um mesmo parecer.” 1 Coríntios
1:10.T5 236.1
A união é força; a divisão, fraqueza. Quando se acham unidos
os que crêem na verdade presente, exercem poderosa influência. Satanás bem
compreende isso. Nunca se achou mais determinado do que agora para tornar de
nenhum efeito a verdade de Deus, causando amargura e dissensão entre o povo do
Senhor.T5 236.2
O mundo é contra nós, as igrejas populares são contra nós,
as leis da Terra em breve serão contra nós. Se já houve tempo em que o povo de
Deus devesse unir-se, é agora esse tempo. Deus nos confiou as verdades
especiais para este tempo, a fim de as tornar conhecidas ao mundo. A última
mensagem de misericórdia está sendo proclamada agora. Estamos lidando com
homens e mulheres que rumam ao juízo. Quão cuidadosos devemos ser em cada
palavra e ato para seguir de perto o Modelo, a fim de que nosso exemplo leve
homens a Cristo. Com que cuidado devemos procurar apresentar a verdade de tal
modo que os outros, contemplando-lhe a beleza e simplicidade, sejam levados a
recebê-la. Se nosso caráter testifica de seu poder santificador, seremos uma
contínua luz aos outros — epístolas vivas, conhecidas e lidas por todos. Não
podemos agora correr o risco de dar lugar a Satanás nutrindo desunião,
discórdia e lutas.T5 236.3
A preocupação expressa na última oração de nosso Salvador
pelos discípulos, antes de Sua crucifixão, foi que imperassem união e amor
entre eles. Tendo ante Si a agonia da cruz, Sua solicitude não foi por Si mesmo,
mas por aqueles que Ele deixaria a continuar Sua obra na Terra. As provas mais
severas os aguardavam; mas Jesus viu que seu perigo maior proviria de um
espírito de amargura e divisão. Daí orar Ele:T5 236.4
“Santifica-os na verdade; a Tua palavra é a verdade. Assim
como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. E por eles Me
santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E
não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela Sua palavra hão de
crer em Mim; para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti;
que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste.”
João 17:17-21.T5 237.1
Essa oração de Jesus abrange todos os Seus seguidores, até
ao fim do tempo. Nosso Salvador previa as provas e perigos de Seu povo; Ele não
é indiferente às dissensões e divisões que perturbam e enfraquecem Sua igreja.
Contempla-nos com mais profundo interesse e mais terna compaixão do que a do
coração dos pais terrestres para com um filho transviado e aflito. Manda que
aprendamos dEle. Convida-nos a nEle confiarmos. Ordena-nos que abramos o
coração para acolher o Seu amor. Deu-Se em penhor, para nos ajudar.T5 237.2
Quando Cristo ascendeu ao Céu, deixou a obra na Terra aos
cuidados de Seus servos, os subpastores: “Ele mesmo deu uns para apóstolos, e
outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e
doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério,
para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e
ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo.” Efésios 4:11-13.T5 237.3
Ao enviar os Seus pastores, nosso Salvador deu dons aos
homens, pois por meio deles Ele comunica ao mundo as palavras da vida eterna.
Este é o meio ordenado por Deus para o aperfeiçoamento dos santos em
conhecimento e verdadeira santidade. A obra dos servos de Cristo não é
meramente pregar a verdade; devem vigiar pelas almas, como os que têm que dar
contas a Deus. Devem redargüir, repreender, exortar, com toda a longanimidade e
doutrina.T5 237.4
Todos os que foram beneficiados pelos trabalhos do servo de
Deus, devem, segundo sua habilidade, unir-se-lhe no trabalho pela salvação das
pessoas. Essa é a obra de todos os verdadeiros crentes, pastores e povo. Devem
conservar sempre em mente o grande objetivo, buscando cada qual preencher sua
devida posição na igreja, e todos trabalhando conjuntamente em ordem, harmonia
e amor.T5 238.1
Nada existe de egoísta ou estreito na religião de Cristo.
Seus princípios são difusivos e progressivos. Ela é por Cristo representada
como a luz brilhante, como o sal que conserva, como o fermento que transforma.
Com zelo, fervor e devoção, os servos de Deus procurarão propagar perto e longe
o conhecimento da verdade; contudo, não negligenciarão o empenho pelo
fortalecimento e unidade da igreja. Vigiarão cuidadosamente a fim de que não
seja dada oportunidade para se introduzirem diversidade e divisão.T5 238.2
Têm ultimamente surgido entre nós homens que professam ser
servos de Cristo, mas cuja obra se opõe àquela unidade que nosso Senhor
estabeleceu na igreja. Têm métodos e planos de trabalho originais. Desejam
introduzir mudanças na igreja, segundo suas idéias de progresso, e imaginam que
desse modo se obtenham grandes resultados. Esses homens precisam ser discípulos
em vez de mestres na escola de Cristo. Estão sempre desassossegados, aspirando
realizar alguma grande obra, fazer algo que lhes traga honra a si mesmos.
Precisam aprender aquela mais proveitosa de todas as lições: a humildade e fé
em Jesus. Alguns há que observam seus coobreiros, procurando ansiosamente
mostrar os seus erros, quando deveriam, em vez disso, procurar fervorosamente
preparar sua própria vida para o grande conflito que têm à frente. O Salvador
lhes ordena: “Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e
encontrareis descanso para as vossas almas.” Mateus 11:29.T5 238.3
Professores da verdade, missionários, oficiais da igreja,
podem efetuar boa obra pelo Mestre, se tão-somente purificarem seu próprio
coração pela obediência à verdade. Todo cristão vivo será um desinteressado
obreiro para Deus. O Senhor nos deu o conhecimento de Sua vontade, a fim de que
nos pudéssemos tornar condutos de luz aos outros. Se Cristo habitar em nós, não
poderemos deixar de por Ele trabalhar. É impossível reter o favor de Deus e
gozar a bênção do amor do Salvador, e ao mesmo tempo ser indiferente ao perigo
dos que estão a perecer em seus pecados. “Nisto é glorificado Meu Pai, que deis
muito fruto.” João 15:8.T5 238.4
Paulo insta com os efésios para que preservem a unidade e o
amor: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da
vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a
unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da
vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de
todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos.” Efésios 4:1-6.T5 239.1
O apóstolo exorta seus irmãos a manifestarem em sua vida o
poder da verdade que ele lhes apresentara. Por sua mansidão e bondade,
paciência e amor, deviam exemplificar o caráter de Cristo e as bênçãos de Sua
salvação. Só há um corpo, e um Espírito, um Senhor, uma fé. Como membros do
corpo de Cristo, todos os crentes são animados pelo mesmo espírito e a mesma
esperança. Divisões na igreja desonram a religião de Cristo ante o mundo, e dão
ocasião aos inimigos da verdade para justificar o seu procedimento. As
instruções de Paulo não foram escritas apenas para a igreja de seus dias. Era
desígnio de Deus que viessem até nós. Que estamos fazendo para preservar a
unidade, nos laços da paz?T5 239.2
Quando o Espírito Santo foi derramado sobre a igreja
primitiva, os irmãos amavam-se uns aos outros. “Comiam juntos com alegria e
singeleza de coração. Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E
todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.”
Atos dos Apóstolos 2:46, 47. Aqueles cristãos primitivos eram poucos em número,
sem riquezas ou honras, mas exerciam poderosa influência. Deles irradiava a luz
do mundo. Eram um terror aos malfeitores, onde quer que eram conhecidos seu
caráter e doutrinas. Por isso eram odiados pelos ímpios e perseguidos até à
morte.T5 239.3
A norma de santidade é hoje a mesma que nos dias dos
apóstolos. Nem as promessas nem as reivindicações de Deus perderam coisa alguma
de sua força. Mas qual é o estado do professo povo do Senhor, em comparação com
a igreja primitiva? Onde está o Espírito e o poder de Deus que, naquele tempo,
acompanhava a pregação do Evangelho? Ai, “como se escureceu o ouro! como se
mudou o ouro fino e bom!” Lamentações 4:1.T5 240.1
O Senhor plantou Sua igreja como uma vinha em campo fértil.
Com o mais terno cuidado Ele a cultivou, para que produzisse frutos de justiça.
Sua linguagem é: “Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha
feito?” Mas essa vinha, plantada por Deus, inclinou-se para a terra e prendeu
suas gavinhas em volta de suportes humanos. Seus ramos se estendem por toda a
parte, mas produz frutos de uma videira degenerada. O Senhor da vinha declara:
“Esperando Eu que desse uvas, veio a produzir uvas bravas.” Isaías 5:4.T5 240.2
O Senhor concedeu grandes bênçãos a Sua igreja. A justiça
exige que ela devolva esses talentos com juros. Como aumentaram os tesouros da
verdade confiados a sua guarda, aumentaram também suas obrigações. Mas em vez
de desenvolver esses dons e avançar no rumo da perfeição, ela volveu atrás
daquilo que alcançara em sua experiência anterior. A mudança em seu estado
espiritual processou-se gradualmente, e quase imperceptivelmente. Ao começar a
buscar o louvor e amizade do mundo, sua fé diminuiu, seu zelo acabou, sua
fervorosa devoção cedeu lugar à formalidade morta. Cada passo rumo ao mundo foi
um passo para mais longe de Deus. À medida que o orgulho e ambição mundana
foram acariciados, afastou-se o espírito de Cristo e insinuaram-se rivalidade,
dissensão e luta, para desviar e enfraquecer a igreja.T5 240.3
Escreve Paulo aos seus irmãos coríntios: “Ainda sois
carnais. Pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois
porventura carnais, e não andais segundo os homens?” 1 Coríntios 3:3. É
impossível que espíritos perturbados pela inveja e luta, compreendam as
profundas verdades espirituais da Palavra de Deus. “O homem natural não
compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não
pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” 1 Coríntios 2:14.
Não podemos compreender nem apreciar devidamente a revelação divina sem o
auxílio daquele Espírito pelo qual foi dada a Palavra.T5 241.1
Os que são designados para guardar os interesses espirituais
da igreja devem ser cuidadosos em dar o exemplo devido, não dando ocasião a
invejas, ciúmes ou suspeitas, manifestando sempre aquele mesmo espírito de
amor, respeito e cortesia que desejam incentivar em seus irmãos. Atenção
diligente deve ser dada às instruções da Palavra de Deus. Seja contida toda
manifestação de animosidade ou falta de bondade, seja removida toda raiz de
amargura. Quando surgem dificuldades entre irmãos, deve ser seguida à risca a
regra do Salvador. Todo esforço possível deve ser feito para conseguir a
reconciliação, mas se as partes persistirem obstinadamente em continuar em
divergência, devem ser suspensas até que possam harmonizar-se.T5 241.2
Ao ocorrerem dificuldades na igreja, examine cada membro o
seu coração para ver se a causa da dificuldade não está nele. Pelo orgulho
espiritual, o desejo de mandar, um ambicioso anelo de honras ou posição, falta
de domínio próprio, condescendência com a paixão ou preconceito, pela
instabilidade ou falta de discernimento, a igreja pode ser perturbada e
sacrificada sua paz.T5 241.3
As dificuldades são muitas vezes causadas pelos passadores
de diz-que-diz-ques, cujas insinuações e sugestões cochichadas envenenam
espíritos confiados, e separam os amigos mais íntimos. Os promotores de desordens
são apoiados em sua má obra pelos muitos que estão de ouvidos abertos e coração
mau, dizendo: “Diga, e nós o espalharemos.” Esse pecado não deve ser tolerado
entre os seguidores de Cristo. Nenhum pai cristão deve permitir que boatos sem
fundamento sejam repetidos no círculo da família, ou feitas observações que
desonrem os membros da igreja.T5 241.4
Devem os cristãos considerar como dever religioso reprimir
um espírito de inveja ou rivalidade. Devem alegrar-se com a boa reputação ou
prosperidade de seus irmãos, mesmo quando seu próprio caráter ou realizações
pareçam lançados na sombra. Foi o orgulho e ambição nutridos no coração de
Satanás que o baniram do Céu. Esses males acham-se arraigados profundamente em
nossa natureza caída, e se não forem removidos, lançarão sua sombra sobre todas
as qualidades boas e nobres, produzindo invejas e discórdias como seus frutos
malignos.T5 242.1
Devemos buscar a verdadeira bondade, em vez da grandeza. Os
que possuem a mente de Cristo terão de si mesmos opinião humilde. Trabalharão
pela pureza e prosperidade da igreja, e estarão prontos a sacrificar os
próprios interesses e desejos, em vez de causar dissensão entre os irmãos.T5
242.2
Satanás busca constantemente produzir desconfiança,
separação e malícia entre o povo de Deus. Seremos muitas vezes tentados a
julgar que nossos direitos tenham sido postergados, quando não existe causa
real para semelhantes pensamentos. Aqueles cujo amor ao próprio eu é mais forte
que seu amor a Cristo e Sua causa, colocarão em primeiro lugar os próprios
interesses, recorrendo a quase todos os expedientes para os defender e manter.
Quando se consideram ofendidos pelos irmãos, alguns recorrerão mesmo à justiça,
em vez de seguirem a regra dada pelo Salvador. Mesmo muitos que parecem
cristãos conscienciosos, são pelo orgulho e estima própria impedidos de ir em
particular àqueles que eles julgam estar em erro, para tratarem do caso no
espírito de Cristo, e orarem uns pelos outros. Contendas, discórdias e
processos entre irmãos são uma desgraça para a causa da verdade. Os que
enveredam por esse procedimento expõem a igreja ao ridículo de seus inimigos, e
fazem que triunfe a causa dos poderes das trevas. Dilaceram de novo as feridas
de Cristo, expondo-O à ignomínia. Desprezando a autoridade da igreja, mostram
desprezo a Deus, que conferiu a autoridade à igreja.T5 242.3
Escreve Paulo aos gálatas: “Eu quereria que fossem cortados
aqueles que vos andam inquietando. Porque vós, irmãos, fostes chamados à
liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos
uns aos outros pela caridade. Porque toda a lei se cumpre numa só palavra,
nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e
devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros. Digo, porém:
Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.” Gálatas
5:12-16.T5 243.1
Falsos mestres haviam levado aos gálatas doutrinas que se
opunham ao evangelho de Cristo. Paulo procurou expor e corrigir esses erros.
Desejava ele grandemente que os falsos mestres fossem separados da igreja, mas
sua influência afetara de tal forma os crentes que parecia arriscado agir
contra eles. Havia perigo de causar discórdia e divisão que seriam ruinosos aos
interesses espirituais da igreja. Procurou, pois, impressionar os irmãos com a
importância de buscarem ajudar-se uns aos outros, em amor. Declarou ele que
todas as reivindicações da lei que estabelecem nosso dever para com os
semelhantes cumprem-se no amor mútuo. Advertiu-os de que, se condescendessem com
ódio e lutas, dividindo-se em partidos, e como os animais se mordessem e
devorassem uns aos outros, trariam sobre si mesmos infelicidade no presente e
ruína no futuro. Um só caminho havia para prevenir esses males terríveis, isto
é, como o apóstolo lhes ordenou, “andai em Espírito”. Tinham de, por meio de
constante oração, buscar a guia do Espírito Santo, que os levaria ao amor e à
unidade.T5 243.2
Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Quando
os cristãos se desentendem, Satanás se insinua para tomar o controle. Quantas
vezes teve ele êxito em destruir a paz e a harmonia nas igrejas! Que conflitos
ferozes, que amargura, que ódio, se iniciaram por uma pequenina questão! Que
esperanças se esfacelaram, quantas famílias foram divididas pela discórdia e
contenda!T5 244.1
Paulo insiste com seus irmãos para tomarem cuidado, a fim de
que, procurando corrigir as faltas alheias, não cometessem eles mesmos pecados
igualmente grandes. Adverte-os de que ódio, rivalidade, ira, lutas, sedições,
heresias e invejas são tão verdadeiramente obras da carne, como o são a
lascívia, o adultério, a bebedice e o homicídio, e, como aqueles, fecharão ao
culpado a porta do Céu.T5 244.2
Declara Cristo: “E qualquer que escandalizar um destes
pequeninos que crêem em Mim, melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma
grande pedra de moinho e que fosse lançado no mar.” Marcos 9:42. Todo aquele
que, por deliberado engano ou por um mau exemplo desvia um discípulo de Cristo,
é culpado de um grande pecado. Todo aquele que o queira fazer objeto de calúnia
ou ridículo, está insultando a Jesus. Nosso Salvador observa todo mal praticado
contra Seus seguidores.T5 244.3
Como eram punidos os que, na antigüidade, desprezavam aquilo
que Deus escolhera para Si mesmo, como sagrado? Belsazar e seus mil grandes
profanaram os vasos de ouro de Jeová, e louvaram os ídolos de Babilônia. Mas o
Deus a quem desafiaram, foi testemunha da cena profana. Em meio de sua alegria
sacrílega, foi vista uma branca mão traçando caracteres misteriosos na parede
do palácio. Cheios de terror, o rei e os cortesãos ouviram pronunciada sua
condenação, pelo servo do Altíssimo.T5 244.4
Lembrem-se os que se deleitam em lançar palavras de calúnia
e falsidade contra os servos de Cristo, de que Deus é testemunha de seus atos.
Suas arremetidas caluniosas não profanam vasos ou objetos, mas sim o caráter
daqueles que Cristo adquiriu por Seu sangue. A mão que traçou as letras nas
paredes do palácio de Belsazar, mantém fiel registro de todo ato de injustiça
ou opressão cometido contra o povo de Deus.T5 244.5
A história sagrada apresenta exemplos notáveis do zeloso
cuidado do Senhor para com o mais fraco de Seus filhos. Durante as jornadas de
Israel no deserto, os cansados e débeis que haviam caído atrás da congregação
foram atacados e mortos pelos covardes e cruéis amalequitas. Posteriormente
Israel declarou guerra aos amalequitas e os derrotou. “Então disse o Senhor a
Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué;
que Eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos Céus.”
Êxodo 17:14. De novo a ordem foi repetida por Moisés exatamente antes de sua
morte, para que não fosse esquecida pela posteridade: “Lembra-te do que te fez
Amaleque no caminho, quando saíeis do Egito: Como te saiu ao encontro no
caminho, e te derribou na retaguarda todos os fracos que iam após ti, estando
tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus. ... Apagarás a memória de Amaleque
de debaixo do Céu; não te esqueças.” Deuteronômio 25:17-19.T5 245.1
Se Deus assim puniu a crueldade de uma nação pagã, como terá
Ele de considerar os que, professando serem Seu povo, farão guerra aos próprios
irmãos que são obreiros gastos e cansados em Sua obra? Satanás tem grande poder
sobre os que cedem ao seu controle. Foram os principais dos sacerdotes e
anciãos — os mestres religiosos do povo — os que incitaram a turba homicida da
sala do julgamento para o Calvário. Há hoje entre os professos seguidores de
Cristo, corações inspirados pelo mesmo espírito que clamou pela crucifixão de
nosso Salvador. Lembrem-se os obreiros do mal de que, para todos os seus atos
há uma testemunha — um Deus santo, que odeia o pecado. Ele trará a juízo todas
as suas obras, com todas as coisas secretas.T5 245.2
“Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos
fracos, e não agradar a nós mesmos. Portanto cada um de nós agrade ao seu
próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a Si
mesmo.” Como Cristo tem tido misericórdia de nós, ajudando-nos em nossas
fraquezas e pecaminosidade, assim devemos nós ter misericórdia de outros e
ajudá-los. Muitos estão perplexos por dúvidas, carregados de fraquezas, débeis
na fé, e incapazes de apreender o que não vêem; mas um amigo a quem podem ver,
vindo-lhes em nome de Cristo, poderá ser um elo de ligação que lhes firme em
Deus a vacilante fé. Oh! é esta uma obra bendita! Não deixemos que o orgulho e
egoísmo nos impeçam de fazer o bem que podemos fazer, se trabalharmos em nome
de Cristo, e com espírito amoroso e terno.T5 245.3
“Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma
ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão;
olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns
dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” Gálatas 6:1, 2. Aqui, de novo,
acha-se-nos exposto claramente nosso dever. Como podem os professos seguidores
de Cristo considerar tão levianamente essas ordens inspiradas? Há pouco tempo,
recebi uma carta descrevendo uma circunstância na qual um irmão manifestara
indiscrição. Embora tenha ocorrido anos atrás, e fosse questão muito
insignificante, que não merecia nenhuma preocupação, a pessoa que escreveu a carta
declarava que lhe destruíra para sempre a confiança naquele irmão. Se a vida
daquela irmã, sendo passada em revista, não mostrasse maiores erros, seria na
verdade uma maravilha, pois é muito fraca a natureza humana. Tenho estado e
continuo em comunhão com irmãos e irmãs que têm sido culpados de graves
pecados, e que mesmo agora não vêem esses pecados como Deus os vê. Mas o Senhor
suporta essas pessoas, e por que não as suportaria eu? Ele fará ainda Seu
Espírito por tal forma lhes impressionar o coração, que o pecado lhes parecerá,
como pareceu a Paulo, grandemente maligno.T5 246.1
Pouco sabemos de nosso próprio coração, e pouca intuição
temos de nossa própria necessidade da misericórdia de Deus. Por isso é que tão
pouco acariciamos aquela suave compaixão que Jesus manifesta para conosco, e
que devemos também manifestar uns para com os outros. Devemos lembrar-nos de
que nossos irmãos são fracos e falíveis mortais, tais como nós mesmos.
Suponhamos que um irmão, por falta de vigilância, tenha sido arrastado pela
tentação; e que, contrariamente à sua conduta geral, tenha cometido algum erro;
que procedimento devemos ter para com ele? Aprendemos, da história bíblica, que
homens que Deus empregara para realizar uma grande e boa obra, cometeram
pecados graves. O Senhor não os passou por alto, sem repreensão, tampouco
rejeitou Ele Seus servos. Quando se arrependeram, Ele graciosamente lhes
perdoou, revelando-lhes a Sua presença e por eles operando. Considerem os
pobres e fracos mortais quão grande é sua necessidade de misericórdia e
longanimidade de Deus e de seus irmãos. Guardem-se eles de julgar e condenar os
outros. Devemos encarar as instruções do apóstolo: “Vós, que sois espirituais,
encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas
também tentado.” Gálatas 6:1. Podemos cair sob tentação e precisar de toda a
paciência que somos chamados a exercer para com o ofensor. “Com o juízo com que
julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de
medir a vós.” Mateus 7:2.T5 246.2
O apóstolo acrescenta uma advertência aos independentes e
confiantes em si mesmos: “Se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada,
engana-se a si mesmo. ... Cada qual levará a sua própria carga.” Gálatas 6:3-5.
Aquele que se considera superior a seus irmãos em juízo e experiência, e lhes
despreza o conselho e advertência, demonstra que se acha num perigoso engano. O
coração é enganoso. Deve ele provar seu caráter e vida pela norma bíblica. A
Palavra de Deus derrama sobre o curso da vida humana uma luz que não pode
errar. Não obstante as muitas influências que se levantam para distrair e
desviar a mente, aqueles que buscam sinceramente a Deus pedindo sabedoria,
serão guiados na conduta correta. Todo homem terá, afinal, de ficar em pé ou cair
por si mesmo, não de acordo com a opinião do partido que o sustém ou a ele se
opõe, não de acordo com o juízo de qualquer homem, mas de acordo com o seu real
caráter à vista de Deus. A igreja pode advertir, aconselhar e admoestar, mas
não pode obrigar ninguém a tomar o bom caminho. Todo que persistir em
menosprezar a Palavra de Deus, terá de levar a própria carga — responder a Deus
por si mesmo, e sofrer as conseqüências de seu procedimento.T5 247.1
Deu-nos o Senhor em Sua Palavra, instruções definidas e inequívocas,
e na obediência a elas podemos preservar a união e harmonia na igreja. Irmãos e
irmãs, estão dando ouvidos a essas ordens inspiradas? São leitores da Bíblia, e
praticantes da Palavra? Estão lutando para cumprir a oração de Cristo, de que
Seus seguidores sejam um? “O Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo
sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a
uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” Romanos
15:5, 6. “Quanto ao mais, irmãos, ... sede perfeitos, sede consolados, sede de
um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco.” 2
Coríntios 13:11. Autora: Ellen White!
Luís Fonseca
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