quinta-feira, 27 de setembro de 2018

SECULARISMO E CRISTIANISMO ENFRAQUECIDO


SECULARISMO E CRISTIANISMO ENFRAQUECIDO

Introdução: A palavra secularização vem de “saeculum”, que, no latim clássico, significava: século, época e idade. No latim eclesiástico adquiriu o significado de “a vida do mundo” e “o espírito do mundo”. E hoje temos as palavras secularização e secularismo para destacar o estado espiritual mundano de alguns cristãos.

O secularismo, de forma geral, valoriza as realidades deste mundo e nega ou exclui os valores das realidades transcendentes do mundo espiritual. É um estilo de vida que se inclina para o profano mais do que para o sagrado, o natural mais do que para o sobrenatural. O secularismo é uma abordagem não religiosa da vida individual e coletiva..
Desde o período Pós II Guerra, temos presenciado o colapso de estruturas tradicionais, principalmente da família e da igreja. A ciência tem influenciado cada vez mais o pensamento contemporâneo, causando também uma busca desenfreada por aquilo que a tecnologia oferece ao homem. Valores morais têm sido substituídos por desejos imorais, que cada vez mais são vistos pela sociedade em geral como coisas naturais, e a igreja cristã tem sido fortemente afetada por isso.


Vivemos em tempos muito difíceis: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” Timóteo 3:1. Essa inclinação para o profano, em vez do sagrado, tem contaminado a igreja de um modo cada vez mais abrangente, enfraquecendo a estrutura espiritual dos pais, filhos e jovens. O que vemos hoje é uma igreja cristã adaptada com as coisas do mundo: “Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus.” Timóteo 3:2-4

I – Uma igreja adaptada ao mundo - A igreja cristã tem sido grandemente influenciada pelos conceitos pragmáticos do secularismo. O pensamento predominante é esse: "Se algo funciona, então é verdadeiro também para a igreja, independente de qual seja a vontade de Deus". Se a igreja enche, não importa que meios estejam sendo usados para isso, pois se está dando certo, então, é a vontade de Deus. O pragmatismo ensina que pensamentos, ideias e ações só têm valor em termos de consequências práticas. Assim, não há qualquer conjunto fixo teórico de valores, logo as doutrinas de Deus tem menos valor do que aquilo que a sociedade dita.

O rei Davi sentiu os resultados de fazer algo para Deus de modo pragmático, em vez de seguir o que ele havia determinado. Deus havia dado as instruções de como a arca da aliança deveria ser transportada: “E fundirás para ela quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro cantos dela, duas argolas num lado dela, e duas argolas noutro lado. E farás varas de madeira de acácia, e as cobrirás com ouro. E colocarás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca.” Êxodo 25:12-14. 

Em vez de seguir as determinações do Senhor, Davi quis ser prático, no transporte da arca de volta para Jerusalém. Ele imitou o modo mundano dos filisteus para o transporte: “Então tomai a arca do Senhor, e ponde-a sobre o carro, e colocai, num cofre, ao seu lado, as figuras de ouro que lhe haveis de oferecer em expiação da culpa, e assim a enviareis, para que se vá.” I Samuel 6:8. O resultado disso foi a morte de Uzá. Ver II Sam. 6: 6-7.  E, “temeu Davi ao Senhor, naquele dia, e disse: Como virá a mim a arca do Senhor?” II Sam. 6:9. Seguir ao mundo em vez de a Palavra de Deus nunca dá bom resultado.

De acordo com a visão secular, a vontade divina já não é algo necessário, mas perfeitamente adaptável às situações. O que realmente importa não é o princípio da presença santa de Deus, na vida do crente e na igreja, mas sim aquilo que, do ponto de vista humano, funciona. Como disse MacArthur, “o pragmatismo está em voga; o compromisso com a verdade bíblica é desprezado como sendo uma fraca estratégia de mercado”.

Muito dizem que “o fim justifica os meios”.  Esse conceito tem sido muito usado em diversas igrejas cristãs. Não importa se a mensagem pregada é a do evangelho verdadeiro, o que importa é que venham novos membros, de preferência com dinheiro para pagar as despesas da igreja.  Essa ideia de fazer qualquer coisa para se atingir determinados objetivos é conhecida como pragmatismo.

Hoje há uma crescente dramatização da pregação da Palavra de Deus, que cede lugar para novos métodos como teatro, dança, comédia, shows de rock, bares e outras formas de entretenimento. Como esses métodos realmente atraem multidões, eles são considerados como corretos em si mesmos, independentemente de serem bíblicos ou não.

II - O secularismo despreza Deus e valoriza os bens materiais. Outro aspecto muito importante é que a igreja tem se secularizado ao lidar com dinheiro e finanças. O profeta Isaías descreveu uma triste situação em Israel e deu uma solene advertência: “Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e ficam como únicos moradores no meio da terra!”. Isaías 5:8. O que é esse desejo de ter mais e de estar acima dos outros?

Esse desejo levou o povo de Israel a desprezar os pobres, órfãos e viúvas, que estavam sob a responsabilidade deles. Levou também o povo a deixar de devolver os dízimos e ofertas como vemos: Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.” Malaquias 3:8. Infelizmente o desejo de possuir mais coisas e deixar Deus de lado, tem feito parte da vida de muitos cristãos na infidelidade a Deus também no nível financeiro.

Eles têm sido contaminados pelo desejo de possuir, de ter, de comprar. O Senhor Deus fica em segundo plano na vida de muitos, que têm seus olhos voltados constantemente para Mamon. Jesus fez uma severa advertência quanto a isso: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. Mateus 6:24.

O cristão secularizado coloca as coisas desta vida como prioridade na ordem de suas preferências. O céu e a eternidade soam aos seus ouvidos como estando muito distantes. Alguém assim, por exemplo, é capaz de trabalhar até 12 horas diárias, mesmo que seja para ver suas economias aumentarem, mas não é capaz de atender, a contento, as necessidades do próximo e nem de ofertar e dizimar. Colocam defeitos, e desculpam-se, pela maneira como o dinheiro é aplicado na igreja, para justificar sua infidelidade. Tem o seu coração mais nas coisas deste mundo do que nos temas pertinentes a eternidade. O apóstolo Paulo assim menciona. “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêm; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.” II Cor.4.18

III – O Secularismo supervaloriza a midia em detrimento a Bíblia. Os jogos eletrónicos, a televisão, o cinema e a internet têm se revelado poderosos instrumentos de massificação do mundo pós-moderno e secular. Em um tempo em que as pessoas dizem não ter tempo para ler ou conversar, o bombardeio de imagens tem promovido uma espécie de anti-intelectualismo, pois anula a capacidade de ler e desenvolver o senso critico e construtivo, substituindo a razão pela emoção e o significado da vida pelo entretenimento. Muitos tem perdido empregos e arranjado muitas inimizades, em casa e em outros lugares, por este triste motivo. Esse comportamento secular geral também tem atingido enormemente as famílias cristãs e a igreja. Os cristãos, assim como os não cristãos, perderam a capacidade ler, interpretar e criticar, passando apenas a assimilar o que veem na internet ou na televisão, quase sempre, coisas muito superficiais. 

Tenho notado, com alguma preocupação, o aumento de crentes com os celulares modernos nas mãos conectados com o mundo e desconectados de Deus e da igreja. Pais e líderes de igrejas manifestam grande preocupação com a vida espiritual de crianças, jovens a famílias por causa da invasão da midia nas nossas vidas.

A regra de fé e prática do povo de Deus deve ser a Palavra de Deus e não as mensagens seculares e mentirosas de nosso mundo pós-moderno. A Bíblia é sempre; “lâmpada para nossos pés e luz para o nosso caminho.” Sal 119:105. Os cidadãos do céu são convidados a terem a mente de Cristo e não a do mundo: “Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.” I Coríntios 2:16.

A mente secularizada geralmente adapta os 10 mandamentos ao seu estilo de vida e atropela ou ignora outros mandamentos do Senhor Jesus. Cito alguns exemplos: “Amai os vossos inimigos.” “Bendizei os que vos maldizem.” “Fazei bem aos que vos odeiam.” “Orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.” Mateus 5: 44. “Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.” Mat. 5.42

IV – O crente secularizado não tem compromisso missionário - O crente que ama o dinheiro e a fama deixa de possuir o ideal missionário. Gosto muito daquele adágio popular: “Quem não vive para servir, não serve para viver.” Este jogo de palavras ilustra muito bem o objetivo, porque, como igreja, existimos. “Todo seguidor de Jesus tem uma obra para fazer como missionário de Cristo, na família, na vizinhança, na vila ou cidade em que reside.” Serviço Cristão, 18

Cada um pode realizar pelo menos uma atividade missionária, dentro de suas capacidades e dons espirituais recebidos. A falta de ideal missionário leva muitos fiéis filhos de Deus a terem sua fé secularizada e uma experiência espiritual frustrada. Encontramos esta linda declaração sobre o Senhor Jesus: “A vida do Salvador na terra não foi de comodidade e dedicação aos próprios interesses; pelo contrário, Ele atuava com persistente e fervoroso esforço pela salvação da humanidade perdida.” Esperança para Viver, 68. Edição especial do livro Aos Pés de Cristo

Com essa embriaguez causada pela mídia, as mentes ficam saturadas de lixo. Influenciados por esse modo de viver mundano, muitos crentes deixaram de lado a leitura da Palavra de Deus e a meditação diária e já não sentem vontade de louvar Deus na igreja. Infelizmente, grande parte dos crentes da atualidade tem abandonado as riquezas e o doçura da Palavra de Deus: “Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos.” Salmos 19:10

Os crentes secularizados pelas coisas deste mundo ficam indisponíveis para o trabalho que Deus lhes pede. Enquanto alguns dedicam tempo para “a obra de Deus”, esses crentes fazem as “suas obras” Como igreja, somos conclamados por Cristo para fazer a obra que Ele realizou no mundo: “A igreja é o instrumento apontado por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada para servir, e sua missão é levar o evangelho ao mundo. 

"Desde o princípio tem sido plano de Deus que através de Sua igreja. seja refletida para o mundo Sua plenitude e suficiência. Aos membros da igreja, a quem Ele chamou das trevas para Sua maravilhosa luz, compete manifestar Sua glória.” Atos dos Apóstolos, 9.

Conclusão – Qual é o apelo de Deus? “Houve alguma nação que trocasse os seus deuses, posto que não eram deuses? Todavia, o meu povo trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” Jerem 2:11-13.

Quando não há diferença entre o santo e o profano acontece a perda de identidade. As doutrinas podem ser as mais lindas, se não houver a “diferença” no comportamento moral, nos hábitos e nos costumes do cristão, ele não acrescenta para efeitos de testemunhar sua fé. Pessoas assim geralmente atrapalham, ao invés de ajudar. Uma igreja assim, além de não crescer numericamente, pode até diminuir. Jesus disse: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é necessário que venham os escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem.” Mateus 18:6

Não devemos desanimar se a religião que professamos não é popular, ou se as multidões não estão interessadas nela. Sabemos que as coisas de Deus como o arrependimento, a confissão a fé em Cristo e a santidade na vida nunca estiveram na moda. Muitos têm se iludido com um marketing bem elaborado e com supostas curas e milagres, mas é preciso muito cuidado: “Há caminho que parece direito ao homem, mas afinal são caminhos de morte”. Prov 16:25

O caminho secular, da religião das multidões, é muito diferente do que ensina a Palavra de Deus: “Entrai pela porta estreita, larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela, porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” Mateus 7: 13-14.

A religiosidade sem Deus resulta em morte espiritual. É isso que encontramos no mundo. É isso o que vemos em cristãos que se secularizaram. Mas, para os verdadeiros filhos de Deus, o compromisso com a Sua Palavra e o serviço ao próximo é o seu objetivo principal.

Convido você a fazer uma lista de atitudes comuns do seu dia a dia que devem ser eliminadas por serem meramente seculares e contrárias à Palavra de Deus e, peço para acrescentar as as coisas que os filhos de Deus fazem para preservar a fé e o amor. O amor às pessoas e o amor à pregação do evangelho. Que Deus o abençoe!

Luís Carlos Fonseca

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