O Cristão no Mundo
Texto - “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser
insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado
fora, ser pisado pelos homens”. Mateus 5:13
Introdução - De acordo com as palavras de Jesus em S. Mateus
capítulo 5:13, encontramos dois elementos bem destacados que merecem a nossa
consideração: o sal e a terra.
Ainda no mesmo capítulo, considerando os versos 3 ao 12, há
uma descrição das qualidades de caráter que os fiéis seguidores de Jesus Cristo
devem possuir neste mundo: “Mansidão, sede de justiça, misericórdia, pureza de
coração, pacificação, etc...” Somente aqueles que têm estas qualidades de
caráter, estão habilitados a ser o sal da terra.
Portanto, ao proferir as bem-aventuranças Jesus deixou bem
claro aquilo que os cristãos deveriam ser, e no verso 13 quando Jesus refere-se
aos cristãos como o sal da terra, Jesus está querendo demonstrar o propósito ou
a função que o cristão deve exercer no mundo.
A terra, ou, o mundo, segundo Gottfried Oosterwal, um dos
coordenadores da missão global na Conferência Geral, envolve os seguintes
aspectos:
1. Pessoas e suas atividades, ideias, pensamentos e obras;
2. A humanidade caída como objeto do amor de Deus;
3. Pessoas que rejeitaram a Cristo ou odeiam os seus
seguidores;
4. Os milhões de pessoas que nem mesmo jamais ouviram falar
de Cristo. L.E.S. Julho - Setembro, 1982 pg. 13.
É nesse contexto, entre essas pessoas, que os cristãos devem
atuar como o sal da terra.
I. O valor do sal - Durante a época de Cristo o sal tinha
muito valor, inclusive do ponto de vista monetário. O termo salário, ou
“salarium” em latim, é derivado da palavra sal que era equivalente a dinheiro.
Os romanos muitas vezes pagavam os salários dos seus soldados com sal, que
podia ser trocado por mercadorias ou mesmo por dinheiro.
Apenas a título de curiosidade, a palavra sal deu origem
também a outras palavras do nosso dicionário, como por exemplo: o verbo
salpicar (jogar sal nos alimentos); salada (mistura de verdura com um pouco de
sal).
O sal no oriente médio era, e ainda é usado até hoje como um
símbolo de amizade. Os beduínos que vivem em tendas no deserto, e também os
árabes, estabelecem um pacto de amizade com outros, ao partilharem juntos uma
comida salgada.
É comum a seguinte expressão entre eles: “Ele comeu sal em
minha mesa” ou “há sal entre nós”.
Deus mesmo estabeleceu uma aliança com o seu povo no deserto
fazendo com eles um “pacto de sal”. Números 18:19.
Como já explicamos ao concluir as bem-aventuranças, Jesus
escolheu a palavra sal para descrever a maneira como os cristãos deveriam
exercer a sua influência no mundo.
II. Características do sal - O sal possui muitas características interessantes: a
primeira delas é que somente tem valor se estiver fora do saleiro.
III. Citação - “O sal deve ser misturado com a substância em
que é posto; é preciso que penetre a fim de conservar. Assim é com o contato
pessoal e a convivência que os homens são alcançados pelo poder salvador do
evangelho... A influência pessoal é um poder. Cumpre-nos achegar-nos àqueles a
quem desejamos beneficiar”. M.D.C. pg. 36
“Jesus misturava-se com os homens” Cons. aos Prof. 290.
“Tratava com [eles] como quem desejava fazer-lhes bem. Mostrava-lhes simpatia,
atendia a suas necessidades e ganhava a sua confiança. Então lhes diz:
Segue-Me”. Min. da Cura, pg. 102.
Nas Meditações Matinais do ano 1991, o Pastor Schwantes
apresenta um fato curioso: “Quanto menos puro é o sal” diz ele “tanto maior a
tendência de absorver a umidade do ar e ficar preso no saleiro. Ao contrário, o
cloreto de sódio puro não é higroscópico, e escorre do saleiro mesmo em dia de
chuva”.
O autor em seguida faz uma pergunta: “Não estaria alguma
“impureza”, impedindo que professos cristãos saiam do saleiro e permeiem no
mundo com a sua fé?” Em outras palavras: O que é que está faltando para nós como
cristãos deixarmos o saleiro a fim de cumprir a missão que nos foi confiada?
Uma outra característica do sal é produzir sede. Quando
comemos alimentos temperados com sal a consequência natural é que sentimos
vontade de beber água.
Como cristãos deveríamos fazer com que as pessoas ao nosso
redor sintam sede do evangelho – a Água da Vida.
IV. Experiência – O pastor Campolongo foi perseguido por um
professor quando adolescente por não frequentar as aulas aos sábados. Depois
como pastor, pregando na Igreja Central em São Paulo, encontrou-se com seu
velho professor, que motivado pelo seu testemunho, estudou a Bíblia para
descobrir qual era de fato o verdadeiro dia de descanso. Constatando que era o
Sábado, tornou-se Adventista do Sétimo Dia.
O sal é útil também para dar sabor aos alimentos. As pessoas
vivem hoje desesperadamente à procura de algo que Ihes dê um pouco de sabor à
vida.
Ao parar o carro próximo a uma igreja, podemos notar o salão
cheio, muita excitação, pessoas buscando alguma coisa. Algum sentido para a
vida. Alguns buscam em formas erradas de culto, outros nos prazeres que o mundo
oferece, outros ainda nas drogas, no dinheiro, etc...
Porém, nenhuma dessas coisas realmente satisfaz. O
verdadeiro sabor para a vida somente Cristo pode oferecer.
Chega a nós, hoje, um veemente apelo: “Todo o que recebeu
divina iluminação, deve lançar luz sobre o caminho dos que não conhecem a luz
da vida. Devemos dar a conhecer ao mundo que não nos achamos absorvidos
egoisticamente em nossos próprios interesses, mas desejamos que os outros
participem das bênçãos e privilégios que gozamos Todos nós devíamos tornar
testemunhas de Jesus. O poder social, santificado pela graça de Cristo, deve
ser aperfeiçoado em atrair almas para o Salvador.” Meditação Matinal, 1974, pg. 123.
O Sal derrete o gelo. Nos lugares onde cai neve o sal é
utilizado algumas vezes para derreter o gelo que se acumula pelo caminho por
onde as pessoas passam. Quando as partículas de sal entram em contato com o
gelo é como se esse gerasse calor, com o qual o gelo se derrete.
Todo cristão deveria transmitir calor espiritual àqueles com
os quais entram em contato.
“Dos crentes sinceros mana uma energia vital e penetrante
que infunde um novo poder às almas pelas quais eles trabalham.... Os seus
corações se enternecem por nosso amor e nossa simpatia desinteressada”. M.D.C.
34.
O sal tem efeito curativo. A Igreja deveria ser um refúgio
onde as pessoas golpeadas, feridas, machucadas por toda sorte de problemas,
pudessem encontrar cura e restauração em Cristo e também nos membros da igreja.
A igreja deveria ser como aquele hospital que colocou uma placa dizendo:
“Aqui
é o lugar onde a dor termina”.
“No seguimento de vossa vida, haveis de encontrar aqueles
cuja sorte está longe de ser fácil. Labuta e privação, sem esperança de coisas
melhores no futuro, torna-lhes pesado o fardo... Gastos pelos cuidados, e
opressos, não sabem para onde se volver, em busca de alívio. Ponde o coração
inteiro na obra de ajudá-los. Não é propósito de Deus que seus filhos se fechem
dentro de si mesmos. Lembrai-vos de que para eles como para nós, Cristo
morreu”. E. G. White
Ilustração: Uma garotinha que não conseguia dormir - a mãe
lhe confortou dizendo que ao lado de sua cama havia um anjo para lhe cuidar. A
criança voltou para o quarto e não conseguindo ainda dormir, porque estava com
medo, voltou a falar com a mãe. Depois que sua mãe insistiu uma ou duas vezes
para que ela voltasse ao quarto porque ali estava o anjo, a menina lhe
respondeu que gostaria de alguém de carne e osso estivesse ao seu lado.
Há muitas pessoas, mesmo dentro da igreja, que esperam por
alguém de carne e osso, como eu e você, que lhes estenda a mão, esteja ao seu
lado e lhes dedique amor e simpatia.
A maior carência das pessoas hoje, é de ordem afetiva e
emocional. Victor Hugo estava correto quando disse que “O homem vive mais por
palavras de ânimo do que por um pedaço de pão.”
Como sal da terra devemos através de nossas palavras e
ações, trazer alívio e bem estar àqueles que se encontram perto de nós.
O Sal é usado também como um agente preservador. Quando
ainda não havia os equipamentos de refrigeração como há hoje, o sal era indispensável
para a conservação de muitos alimentos. Principalmente a carne.
O Dr. Martyn Lloyd Jones, faz uma comparação entre este
mundo e a carne que tem na superfície e na própria substância, germes que se
não houver um elemento de conservação, apodrece rapidamente. Aquilo que o sal
chega a ser para um pedaço de carne, destruindo o que é ruim e conservando o
que é bom, o cristão deveria ser, exercendo sua influência no mundo.
Diz o Dr. Jones, em seu livro, Estudos no Sermão do Monte: “Este
mundo, entregue a si mesmo, é algo que só tende a supurar. Existem esses
micróbios da maldade, esses germes, esses bacilos no próprio corpo da
humanidade; e a menos que sejam neutralizados, causarão enfermidades graves...
dentro de sua própria vida e natureza o mundo manifesta [uma] tendência para a
putrefação”.
A presença do cristão deve controlar a maldade, os vícios e
a corrupção moral que há no mundo. Pode ser um simples operário mas se for um
cristão genuíno, possuído pelo Espírito Santo, com certeza a sua conduta
afetará as pessoas que estiverem a sua volta.
“... a principal dificuldade é que há um número por demais
reduzido de pessoas verdadeiramente convertidas, e aquelas que são cristãs não
exibem as qualidades que são simbolizadas pelo sal com intensidade suficiente”:
Idem.
Enche-nos de espanto o fato de que se houvesse nas cidades
de Sodoma e Gomorra, apenas 10 homens justos, tais cidades não teriam sido
destruídas (Gen. 18:32).
É inestimável o valor da influência de um cristão
verdadeiramente convertido no meio onde ele vive.
“A verdadeira religião”, diz
a serva do Senhor, “é a luz do mundo e o sal da terra”. O Sal opera quieta e imperceptivelmente. Sua influência é
mais sentida do que vista. Assim é também com o cristão. Ao exercer a sua
influência no mundo não deve chamar a atenção para si.
“O cristão pode não reconhecer que está fazendo um bem
especial, mas por sua influência inconsciente pode pôr em movimento ondas de
bênçãos que hão de ampliar-se e aprofundar-se, e talvez não venha saber dos
benditos resultados senão no dia da recompensa final.” Meditação Matinal, 1968, pg. 239.
Há muito mais aplicações do simbolismo do sal na vida
cristã. Por exemplo: O Sal é diferente do material onde é aplicado. Assim os
cristãos devem ser diferentes do mundo. Devem misturar-se como Jesus
misturava-se com os homens, sem, contudo perder a sua identidade. “Se o sal
perder o sabor”, disse Jesus, “para nada mais presta senão para, lançado fora,
ser pisado pelos homens” (Mat. 5:13).
O Sal é posto na massa e não o contrário. De tal maneira os
cristãos devem tomar a iniciativa de ir e alcançar o mundo que tão
desesperadamente necessita de Cristo.
Depois de ouvirmos essas considerações sobre o papel que o
cristão deve exercer no mundo, fica uma preocupação: Como viver a altura de
tudo isto?
Quanto a isso não precisamos nos preocupar. No início
mencionamos que o sal foi usado como um símbolo da aliança de Deus com o seu
povo no passado (Num. 18:19). O sal era também adicionado a cada sacrifício
oferecido no ritual do Velho Testamento. Sem sal os sacrifícios eram
inaceitáveis diante de Deus. O sal representava a Justiça de Cristo.
Conclusão: Que lição podemos extrair para hoje? Se desejamos nos
apresentar, como um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rom 12:1),
devemos receber em nossa vida o sal redentor e purificador da Graça de Cristo.
Em outras palavras: antes que possamos nos tornar o sal deste mundo, é
necessário primeiro que sejamos salgados por Jesus. “A salvação operada por
Cristo foi colocada ao nosso alcance, para que possamos lançar mão dela pela
fé, para que possamos entrelaçar o amor de Cristo em nosso caráter, e
praticá-lo em nossa vida, para que possamos ser uma bênção a toda raça
humana... Nada podemos fazer sem a ajuda divina. O Espírito de Deus precisa
operar juntamente com nossos esforços, e se as bênçãos de Deus nos assistirem,
seremos condutos de luz... Necessitamos de abundante Graça a fim de nos
conservarmos humildes, e nos tornarmos fervorosos, piedosos, compassivos, e
corteses, para que possamos tratar os outros como Deus quer que o façamos”.
Med. Mat. 1986, pg. 197.
Aqui está o segredo, “sem Mim” disse Cristo: “nada podeis
fazer”. E o que é nada? Nada é nada e nada mais.
Para se obter o sal é preciso a união de duas substâncias: o
cloro e o sódio. Quando essas duas substâncias se unem, dão origem ao cloreto
de sódio, que é o sal.
Seremos o sal da terra se estivermos unidos a Cristo. E se
assim for a nossa experiência, poderemos dizer como o apóstolo Paulo: “Tudo
posso Naquele que me fortalece!” (Fil. 4:13).
Que o Senhor nos abençoe para isso. Amém!!!
Pr. Jetro Ferreira da Silva - Este sermão é um oferecimento
da Ação Solidária Adventista da União Central Brasileira
Luís Carlos Fonseca
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